segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sem Pan, Globo faz maior cobertura da história da Copa América

@lucasfelix

Não é difícil se ter a sensação de estar em épocas diferentes assistindos aos programas esportivos da Globo e da Record. A grade global se volta com grande atenção para Copa América enquanto a da Barra Funda tem seu foco na cobertura do Pan de Guadalajara (que só começa em outubro) e até mesmo nas Olimpíadas de Londres.

A Copa América inicia para Globo um ciclo de grandes competições esportivas que serão transmitidas nos próximos anos. Na lista estão a Copa das Confederações no Brasil em 2013, A Copa do Mundo no Brasil em 2014, a próxima Copa América, também sediada no Brasil, em 2015 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 (Band e Record também transmitem o evento). Ao todo, são 5 equipes globais que vão acompanhar o evento sediado na Argentina. 3 para acompanhar a Seleção Brasileira, 1 para acompanhar o time local e outra para mostrar a cultura do país sede.

Nessa semana, todos os telejornais da emissora trazem séries especiais sobre o evento. O Bom Dia Brasil faz uma visita por todos os países participantes, o Jornal Hoje observa as principais curiosidades, o Jornal Nacional a história da competição e o Jornal da Globo os craques que estarão na disputa. Além dos telejornais, a cobertura se estende durante o Globo Esporte e o Esporte Espetacular.

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Estádio Monumental será palco da final da Copa América

Na TV aberta, a Globo irá transmitir apenas os jogos da Seleção Brasileira. A equipe enviada para Argentina é composta por Galvão Bueno, Walter Casagrande, Arnaldo Cézar Coelho, Tino Marcos, Mauro Naves, Eric Faria, Renato Ribeiro, Ivan Moré. Delis Ortiz, que já é correspondente global na Argentina, também integra a equipe.

O tratamento de luxo que está sendo recebido pela Copa América mostra a mudança de postura da Globo após ter perdido os Pans de Guadalajara e Toronto e as Olimpíadas de Vancouver (inverno) e Londres (verão) para Record. Além do torneio continental, a Liga dos Campeões da Europa é um bom exemplo dessa nova postura da maior rede do país. Antes ignorada, a liga de times da Europa passou a ter um status de extrema importância após mudar de emissora.

A Copa América 2011 começa na próxima sexta com o duelo Argentina x Bolívia, mas a Globo só começa a transmitir jogos ao vivo no domingo com Brasil x Venezuela.

O boom da classe média na TV brasileira

@lucasfelix

Foi-se o tempo em que o Brasil era dividido simplesmente entre pobre e ricos. Os estereótipos do luxo e da miséria extremos parecem cada vez mais superados. Culpa do meio-termo que está se tornando o termo principal da nossa sociedade. Sim, estou falando da tão famosa classe C.

Fazer parte dela se tornou cult. São várias as referências ao "milagre brasileiro" nos telejornais, revistas, até mesmo novelas como Insensato Coração apelam ao merchandising social para explicar o novo brasileiro que está surgindo. No mundo, com um empurrão amigo da Copa e das Olimpíadas também já superamos a imagem de subdesenvolvidos e ficamos cada vez mais com a imagem de um país de classe média.

Essa nova classe não se contenta apenas com o feijão com arroz. Sempre está em busca de inovações. Não há mais o desejo de se ter uma fortuna de vencedor de loteria. Melhor do que ficar com sonhos utópicos e um papel de coadjuvante, que se viva a boa realidade com protagonismo.

Prova disso é o troca-troca que a Globo recentemente promoveu em seu jornalismo. O popular (de vez em quando até demais, vide suas participações "alteradas" no Carnaval) Chico Pinheiro foi deslocado do SPTV para o Bom Dia Brasil, até então apresentado pelo elegantíssimo Renato Machado (que durante a transmissão do Casamento Real, comentou com facilidade sobre as raças dos cavalos que levavam William e Kate). O Bom Dia Brasil e o Jornal da Globo eram os telejornais globais ainda focados nas classes A e B. O Jornal Hoje há tempos se tornou uma revista eletrônica e o Jornal Nacional tem de adotar um tom que agrade todos os lados. Segundo a emissora, a mudança de Machado foi por um pedido dele mesmo. Fato é que ela ocorre coincidentemente numa fase onde o Bom Dia é ameaçado pelo policial SP no Ar, exibido pela Record.

Para o lugar de Chico no SPTV, a emissora optou por César Tralli. Repórter investigativo, ele deve dar ao jornal local paulista o mesmo tom que o RJTV já adota há algum tempo. A versão fluminense do Praça TV há tempos que traz uma apresentação mais solta, sem bancada, de Ana Paula Araújo e várias doses de notícias policiais com o comentarista Rodrigo Pimental, que aliás, agora também está no Bom Dia Brasil. No Rio, as mudanças vieram após a Globo ser ameaçada e ultrapassada pelo Balanço Geral (Record) e SBT Rio (precisa dizer que é do SBT?). Em São Paulo, a situação ainda não estava tão caótica, mas parece que a cúpula global preferiu não arriscar. Voltando ao SPTV, Mariana Godoy (jornalista de tom mais sóbrio que fazia dupla com Chico) foi deslocada para o Jornal das 10 da Globo News. A "punição" viria por supostas brigas com a equipe e até mesmo com o seu próprio colega de bancada.

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Cena de Natalie Lamour (Déborah Secco) em Insensato Coração. 
Trama mostra diversos núcleos com personagens inseridos na nova classe média

Além das mudanças citadas anteriormente (que entram em vigor em setembro), o jornalismo global também vem mudando a linguagem do Globo Esporte, implantando em todo o Brasil o modelo brincalhão e descontraído lançado em SP por Tiago Leifert e até mesmo do Jornal Nacional que perdeu o tom sisudo e agora abre espaço até para conversas entre William Bonner e Fátima Bernardes. Em 2010, durante o JN no Ar, Bonner teve um dia de showman ao lançar a viagem em Macapá-AP. O Fantástico também passou por mudanças, abandonando o entretenimento como foco principal e passou a investir em matérias investigativas. Tudo por causa da concorrência acirrada com o Domingo Espetacular. Justiça seja feita, recentemente, esse tom de conversa direta com o público da emergente classe C foi lançado pela Record e vem sendo adaptado pela Globo. Até o SBT entrou nesse caminho com a mais recente reformulação do SBT Brasil. O principal telejornal da emissora de Silvio Santos adotou uma linha opinativa e leve.

Enfim, a programação da nossa TV anda se adaptando tanto a esse novo público que é quase impossível resumir todos os produtos que tem essa vocação. Como o foco é sobre televisão, preferi destacar isso. Mas a classe C tem dominado também os ramos de tecnologia, moda, construção...A pergunta que fica é: Será que esses imponentes 51% da população (39 milhões de brasileiros) continuarão essa linha ascendente?

PS: Quem disse que a classe média também não sofre? Esse Tumblr traz ótimas sacadas tiradas de posts do Twitter e do Facebook.

domingo, 19 de junho de 2011

Desespero faz Record ressuscitar lado trash

@lucasfelix

Desde 2004 que a Record anuncia por todos os lados que está no caminho da liderança. Fez investimentos, contratações e adotou um padrão de qualidade similar ao da Globo. Lentamente, o caminho vinha dando certo. Mas a direção da emissora tem pressa. Para quê um projeto de longo prazo se sangue dá audiência fácil? Assim, boa parte da grade é infectada por programas de apelo popular, no mau sentido da palavra.

Logo cedo, o Balanço Geral de Geraldo Luís que chegava a bater a Globo com matérias sobre amenidades e curiosidades comandadas pelo próprio apresentador, se tornou em mais um espaço para mostrar a violência. Na sequência, o SP no Ar faz a mesma coisa em estúdio diferente. Links ao vivo para mostrar acidentes, os assassinatos da noite passada... Não que esse tipo de informação não seja necessário, mas são 1h30 só no início da manhã.

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Record Notícias: matérias que passaram horas antes são completamente requentadas

Fala Brasil e Hoje em Dia dão uma quebrada no clima trash que volta com força total no Record Notícias. Durante 2h30, Adriana Reid e seu fiel papagaio escudeiro Percival de Souza voltam a mostrar as principais tragédias e crimes do dia, muitas vezes com reprises de conteúdo já apresentado em outros telejornais. Por falar em reprises, na sequência do Record Notícias vem o Tudo a Ver. Formato que emplacou durante um bom tempo nas tardes da emissora em sua versão original com Paulo Henrique Amorim e Janine Borba que se tornou um Vale a Pena Ver de Novo. Passando por matérias sobre bichos e vídeos da internet, tudo é reciclagem de outras atrações da casa. A partir dessa segunda, todo esse time ganha o reforço do Cidade Alerta. Em quê consiste o Cidade Alerta? Datena gritando contra as autoridades e o Comandante Hamilton mostrando perseguições, acidentes e enchentes. Essa é a grande aposta da emissora que pretende ser a líder do Ibope dentro de poucos anos para alavancar seu horário nobre.

Enquanto amplia o que dá errado (sim, além de serem produtos de péssimo gosto, a maioria dos citados anteriormente trava uma disputa pesada com o SBT pela vice-liderança. Ou seja, nem se pode afirmar que estão no ar por audiência. Apenas por acomodação do canal), a Record muda produtos que estavam dando certo. Caso do Praça Record que ia ao ar após Rebelde. Com Reinaldo Gottino em SP e Luiz Bacci no RJ, o Praça mesclava as pautas pesadas com as mais light e por muitas vezes era a maior audiência da Record no dia. Agora, a emissora o coloca em disputa direta com o Praça TV da Globo e o Brasil Urgente da Band. Alguma chance dos altos picos se repetirem num duelo direto com atrações tão similares?

De forma alguma quero questionar o louvável fato da emissora dedicar várias horas da sua grade ao jornalismo. O que questiono é a forma de condução desse jornalismo. Em casos de repercussão, como o assassinato da pequena Isabella Nardoni ou o sequestro de Eloá Pimentel, é necessário que se mantenha por horas no ar ao vivo; até mesmo com as repetições. Bem diferente é mostrar fatos aleatoriamente num loop infinito onde o precioso tempo da segunda maior rede do Brasil poderia estar sendo aproveitado de maneira melhor. A pressa é a inimiga da perfeição, mas parece que os bispos nunca ouviram esse ditado...