segunda-feira, 27 de junho de 2011

O boom da classe média na TV brasileira

@lucasfelix

Foi-se o tempo em que o Brasil era dividido simplesmente entre pobre e ricos. Os estereótipos do luxo e da miséria extremos parecem cada vez mais superados. Culpa do meio-termo que está se tornando o termo principal da nossa sociedade. Sim, estou falando da tão famosa classe C.

Fazer parte dela se tornou cult. São várias as referências ao "milagre brasileiro" nos telejornais, revistas, até mesmo novelas como Insensato Coração apelam ao merchandising social para explicar o novo brasileiro que está surgindo. No mundo, com um empurrão amigo da Copa e das Olimpíadas também já superamos a imagem de subdesenvolvidos e ficamos cada vez mais com a imagem de um país de classe média.

Essa nova classe não se contenta apenas com o feijão com arroz. Sempre está em busca de inovações. Não há mais o desejo de se ter uma fortuna de vencedor de loteria. Melhor do que ficar com sonhos utópicos e um papel de coadjuvante, que se viva a boa realidade com protagonismo.

Prova disso é o troca-troca que a Globo recentemente promoveu em seu jornalismo. O popular (de vez em quando até demais, vide suas participações "alteradas" no Carnaval) Chico Pinheiro foi deslocado do SPTV para o Bom Dia Brasil, até então apresentado pelo elegantíssimo Renato Machado (que durante a transmissão do Casamento Real, comentou com facilidade sobre as raças dos cavalos que levavam William e Kate). O Bom Dia Brasil e o Jornal da Globo eram os telejornais globais ainda focados nas classes A e B. O Jornal Hoje há tempos se tornou uma revista eletrônica e o Jornal Nacional tem de adotar um tom que agrade todos os lados. Segundo a emissora, a mudança de Machado foi por um pedido dele mesmo. Fato é que ela ocorre coincidentemente numa fase onde o Bom Dia é ameaçado pelo policial SP no Ar, exibido pela Record.

Para o lugar de Chico no SPTV, a emissora optou por César Tralli. Repórter investigativo, ele deve dar ao jornal local paulista o mesmo tom que o RJTV já adota há algum tempo. A versão fluminense do Praça TV há tempos que traz uma apresentação mais solta, sem bancada, de Ana Paula Araújo e várias doses de notícias policiais com o comentarista Rodrigo Pimental, que aliás, agora também está no Bom Dia Brasil. No Rio, as mudanças vieram após a Globo ser ameaçada e ultrapassada pelo Balanço Geral (Record) e SBT Rio (precisa dizer que é do SBT?). Em São Paulo, a situação ainda não estava tão caótica, mas parece que a cúpula global preferiu não arriscar. Voltando ao SPTV, Mariana Godoy (jornalista de tom mais sóbrio que fazia dupla com Chico) foi deslocada para o Jornal das 10 da Globo News. A "punição" viria por supostas brigas com a equipe e até mesmo com o seu próprio colega de bancada.

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Cena de Natalie Lamour (Déborah Secco) em Insensato Coração. 
Trama mostra diversos núcleos com personagens inseridos na nova classe média

Além das mudanças citadas anteriormente (que entram em vigor em setembro), o jornalismo global também vem mudando a linguagem do Globo Esporte, implantando em todo o Brasil o modelo brincalhão e descontraído lançado em SP por Tiago Leifert e até mesmo do Jornal Nacional que perdeu o tom sisudo e agora abre espaço até para conversas entre William Bonner e Fátima Bernardes. Em 2010, durante o JN no Ar, Bonner teve um dia de showman ao lançar a viagem em Macapá-AP. O Fantástico também passou por mudanças, abandonando o entretenimento como foco principal e passou a investir em matérias investigativas. Tudo por causa da concorrência acirrada com o Domingo Espetacular. Justiça seja feita, recentemente, esse tom de conversa direta com o público da emergente classe C foi lançado pela Record e vem sendo adaptado pela Globo. Até o SBT entrou nesse caminho com a mais recente reformulação do SBT Brasil. O principal telejornal da emissora de Silvio Santos adotou uma linha opinativa e leve.

Enfim, a programação da nossa TV anda se adaptando tanto a esse novo público que é quase impossível resumir todos os produtos que tem essa vocação. Como o foco é sobre televisão, preferi destacar isso. Mas a classe C tem dominado também os ramos de tecnologia, moda, construção...A pergunta que fica é: Será que esses imponentes 51% da população (39 milhões de brasileiros) continuarão essa linha ascendente?

PS: Quem disse que a classe média também não sofre? Esse Tumblr traz ótimas sacadas tiradas de posts do Twitter e do Facebook.

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