quarta-feira, 19 de junho de 2013

A semana histórica na mídia brasileira: O gigante acordou

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Belém, Porto Alegre... Essas e muitas outras capitais foram tomadas por manifestantes ao longo de uma semana que entrará para história política do país. Foram muitas manifestações, com muitas pessoas e muitos pedidos. Superlativos que também aparecem nas transmissões de TV.


17/6 | Na segunda, a revolta popular já era imensa. Seja na Avenida Paulista ou na Getúlio Vargas, dezenas de milhares lotavam as cidades. A Record fez sua habitual cobertura ao vivo com Marcelo Rezende durante o Cidade Alerta e apertou a concorrência. Na Band, José Luiz Datena foi escalado para um Plantão que durou do final do telejornal do canal até o CQC, que também contou com entradas ao vivo de Márcio Campos e Felipe Andreoli. Na Globo, a principal marca do dia foi a mudança de tom da cobertura. Não que o canal estivesse contra os manifestantes antes, mas os apresentadores e repórteres passaram a observar excessivamente que apenas grupos isolados praticavam atos de vandalismo. O primeiro boletim do canal foi comandado por Patrícia Poeta ainda durante a Sessão da Tarde. Entre Malhação e Flor do Caribe, novo boletim extraordinário. E foram tantos outros, seja com a âncora do JN durante Sangue Bom ou com Christiane Pelajo durante Amor à Vida. Na Tela Quente, diversos comerciais foram feitos apenas para realização de entradas ao vivo. E vários telejornais locais tiveram suas durações ampliadas para mostrarem os protestos em tempo real, como o DFTV, que mostrou a ocupação do teto do Congresso.

Com baderna ou sem baderna?
Na Band, Datena passou por maus momentos durante o Brasil Urgente da segunda. Ele havia questionado se o público era a favor de protestos com baderna. Mesmo com o apresentador se posicionando claramente contra, a resposta do público o contradisse.

Invasão da marquise do Congresso foi uma das imagens marcantes da segunda

Sede paulista da Globo cercada
Acuada na cobertura e tendo até mesmo que escalar repórteres desconhecidos e sem canoplas para as ruas, a Globo se pronunciou através de editorial no JN. "A TV Globo vem fazendo reportagens sobre as manifestações desde o seu início e não tem nada a esconder. O excesso da polícia, as reivindicações do Movimento Passe Livre, o caráter pacífico dos protestos e quando houve depredação e destruição de ônibus. É a nossa obrigação e dela não nos afastaremos, direito de protesta pacificamente, é um direito dos cidadãos", disse Patrícia Poeta

18/6 | Na terça, a intensidade dos protestos estampou capas históricas para os principais jornais do país. E a repercussão empurrou William Bonner de volta para o Rio de Janeiro. Na edição anterior do JN, o âncora havia ficado limitadíssimo ao cobrir de Fortaleza apenas as notícias da Copa das Confederações. O apresentador justificou seu retorno, o único dentre os jornalistas que cobrem o evento esportivo para Globo.

Após anunciar que "Você viu que, nos últimos dias, eu estive acompanhando a seleção brasileira na Copa das Confederações. Aliás, como foi planejado com quase dois anos de antecedência. Mas, à medida que as manifestações de protesto foram se espalhando, foram crescendo pelo Brasil, automaticamente elas foram cada vez mais ocupando o noticiário do Jornal Nacional. É verdade que, mesmo à distância, eu e os colegas aqui da redação do Jornal Nacional temos total condição de trabalhar juntos, com a ajuda da tecnologia. Mas, depois dos acontecimentos de ontem, eu preferi voltar para cá e participar ainda mais de perto desta cobertura", Bonner chamou Galvão Bueno, que fez o papel de âncora da transmissão direto de Fortaleza. Ainda na Globo, os boletins do JG com Christiane Pelajo voltaram a marcar presença em boa parte da grade a partir da exibição da novela Amor à Vida. Show da Fé e Os Simpsons voltaram a ser cancelados na Band, assim como a Record repetiu o esticamento do JR.

Carro da Record incendiado
Uma das notas tristes da terça de protestos foi o incêndio de uma Unidade Móvel de Jornalismo da TV Record em São Paulo. O assunto ganhou ampla repercussão, incluindo referências nominais, em todas as concorrentes.


Ainda no Cidade Alerta, que transcorria durante o incêndio, a Record confirmou que toda a equipe, liderada pela repórter Merie Gervásio, passava bem.

Em nota oficial, a emissora "reafirma o seu compromisso de transmitir com fidelidade o protesto pacífico de milhares de pessoas nas ruas brasileiras e lamenta apenas que pequenos grupos tentem impor as suas ideias pela violência".

19/6 | O jogo da Seleção Brasileira parece ter esfriado os ânimos dos manifestantes na quarta, que relativamente foi mais tranquila. O anúncio da redução das tarifas em São Paulo e no Rio de Janeiro também  contribuiu para o clima de calmaria, claro. A coletiva de Fernando Haddad e Geraldo Alckmin em São Paulo foi transmitida ao vivo pela Globo imediatamente depois da vitória brasileira sobre o México. Patrícia Poeta chegou até mesmo a conversar com o narrador Galvão Bueno por alguns instantes.


Durante a partida, Galvão mostrou cartazes de manifestantes no Castelão, que foram capturados por câmeras exclusivas da Globo. Também chamou atenção a cantoria completa do Hino Nacional pela torcida, mesmo após ser encerrada a parte da trilha editada pela Fifa. 

O clima só não foi tão amistoso em uma afiliada que teve o link invadido por manifestantes. No dia anterior, situação parecida já havia ocorrido em rede nacional com a Band. Aliás, devido ao futebol, o canal do Morumbi emendou o Jornal da Band, começado às 21h, com uma nova cobertura especial dos protestos sob a batuta de José Luiz Datena. 

20 de junho de 2013, "neste momento, as notícias mais importantes do dia estão transcorrendo diante dos seus olhos"



A edição histórica do Jornal Nacional foi aberta assim por William Bonner. "Aberta", já que Patrícia Poeta estava no ar há mais de 3h com as informações sobre a onda de protestos no Brasil em uma das mais surpreendentes coberturas da história global, quando boa parte da grade do horário nobre foi derrubada pelo jornalismo. Isso dá a dimensão do que foi o maior dia de mobilização nacional na história recente do país.


Antes desse momento, muitas mudanças ocorreram. A começar pelo cancelamento da transmissão de Espanha x Taiti, já que a Fifa impede a interrupção de imagens dos jogos gerados por ela. Para acomodar melhor os boletins, a Globo seguiu com sua grade normal de programação. Normal? Sem filme programado para Sessão da Tarde, já que o jogo era anunciado até a hora do Globo Esporte, a emissora tratou de esticar a novela O Profeta, que teve 10 breaks, grande parte deles com informações ao vivo comandadas por Patrícia, que mobilizava repórteres por todo o país. No break final, um grande boletim mostrava as cidades já lotadas, porém não houve o retorno para reprise, mas sim uma exibição surpresa de Malhação, que deveria voltar ao ar apenas na sexta. Após 14 minutos de capítulo, finalmente se entrou o boletim definitivo, sem nenhuma vinheta. Havia apenas o aviso verbal de que ali se interrompia a programação. Antes disso, foram 48 minutos de flashes durante a tarde, como diria o próprio William Bonner durante o encerramento do Jornal Nacional.

Jornal Nacional histórico. Afinal, como definir onde ele começou? Com Poeta comandando sozinha o boletim definitivo? Com William Bonner chegando para lhe fazer companhia? Com a vinheta de corte pontualmente às 20h30? Para William, na própria edição, prevaleceu a primeira opção. Para o site do JN, ao carregar a íntegra na internet, a segunda. Para Globo, ao direcionar os dados ao Ibope, a terceira. 

A referida chegada de William foi por volta das 19h50, quando o próprio admitiu que até então produzia a edição do JN e que não faria sentido planejar-se uma edição pelos fatos estarem acontecendo "ao sabor dos acontecimentos que estão se desdobrando na frente da tela". Em seguida, o também editor-chefe emendou um editorial defendendo a liberdade de imprensa, partindo da deixa do incêndio em um carro de reportagem do SBT no Rio de Janeiro. No mesmo dia, um veículo da Band Natal também foi depredado. 


Cerca de 40 minutos mais tarde, no horário em que deveria acabar Sangue Bom, que fora cancelada no dia, assim como Flor do Caribe e a segunda edição do Praça TV, entra no ar a vinheta de patrocínio do Bradesco e o selo de abertura. Mas vão veio a escalada depois, apesar da trilha histórica do Jornal Nacional, antes usada em 2013 apenas na definição do conclave que elegeu Francisco como papa, ficar ao fundo da fala de William Bonner por alguns instantes. Era mesmo uma "edição completamente diferente daquelas que estamos habituados". Naquele momento, disse Bonner, as notícias mais importantes do dia estavam transcorrendo diante dos olhos do públicos. A imagem na tela era a de um pequeno grupo tentando invadir o Palácio do Itamaraty. 

A edição do JN no dia teve apenas 2 VTs, ambos sobre a Copa das Confederações, exibidos no penúltimo bloco da edição e chamados diretamente pelos apresentadores. Sobre as manifestações, apenas informações ao vivo. Às 21h20, com um editorial que defendia a maioria pacífica, era encerrada a edição que proporcionou momentos peculiares, como as conversas de Patrícia Poeta com a produção para definir qual seria o próximo link a ser chamado. E com a promessa, de fato cumprida, de interrupção durante todos os breaks da novela Amor à Vida. No primeiro, pelo próprio Bonner. Depois, com Christiane Pelajo dos estúdios do Jornal da Globo, como ocorria nos dias anteriores. Os créditos subiram  ao som da trilha especial. 



Excepcionalmente, a edição foi liberada na internet também para quem não é assinante da globo.com. 

Simultaneamente, a Record prosseguia com sua cobertura, que durou até 22h30. A da Band, começada apenas após 21h por causa de compromissos com a Copa das Confederações, foi até 23h. No SBT, as entradas ao vivo ocorreram durante o Programa do Ratinho, porém já haviam começado desde a tarde, quando derrubaram o Casos de Família.

21/6 | Na sexta, o noticiário voltou a ser tomado pelos protestos. Basicamente, pela repercussão deles, já que a onda de manifestações foi menor. Boa parte dos telejornais locais da Globo, que no dia anterior falaram sobre o movimento apenas em boletins regionais no break de Amor à Vida, foram dedicados ao assunto. No Bom Dia Brasil, a escalada foi integralmente sobre isso. 



Já o JN, que começou mais tarde por causa do horário político, foi interrompido também pela rede nacional da presidente Dilma Rousseff, que prometeu convocar os líderes dos protestos para reuniões, voltou a ser dividido apenas entre um amplo espaço para as manifestações e um minúsculo para Copa das Confederações, que ainda foi repleto de gafes. Primeiro, Bonner interrompendo Galvão Bueno na ida para o break. Depois, o microfone do narrador falhou. Entre trancos e barrancos, Galvão falou e a edição terminou apenas após 21h40, uma marca praticamente histórica numa semana que realmente fez história. Bonner e Poeta retornaram no dia seguinte, mesmo sendo um sábado, assim como ocorreu com Sandra Annenberg e Evaristo Costa no Jornal Hoje. 

O Globo Repórter da sexta, em raro momento factual, foi dedicado aos protestos. 

O dia também serviu para divulgação das capas das revistas semanais. Veja e Época estamparam os selos de edição histórica e edição especial, respectivamente. 

Opiniões conturbadas

Quando o Brasil para por um tema, muita gente para para falar sobre esse tema. Não foi diferente com a onda de manifestações. Arnaldo Jabor foi um dos primeiros a falar sobre o assunto na TV. E a se precipitar também. . Após classificar o Movimento Passe Livre meramente como baderna, o jornalista voltou atrás. “Outro dia eu errei, sim. Errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. Falei na TV sobre o que me pareceu um bando de irresponsáveis fazendo provocações por causa de 20 centavos. Era muito mais que isso”, disse.

Se falando em #opinião, obviamente também não falta espaço para Rachel Sheherazade. Sempre polêmica, a jornalista fez uma certa crítica ao tom apartidário das manifestações brasileiras: "Nós, brasileiros, temos todos os motivos do mundo para reclamar! Mas, se não focarmos as prioridades, não chegaremos a lugar algum. Porque uma hora os protestos vão virar lugar comum, as passeatas vão cansar... Interessante é que o movimento se diz apartidário e quer mudar o país. Mas, numa democracia, não é possível fazer mudanças sem a interveniência dos partidos e a ação dos políticos. Ou será que queremos voltar ao regime de exceção, sem parlamento, sem representação, sem eleição? Os políticos são um mal necessário. E se eles não nos representam, que os mudemos! Candidatem-se os bons! Elejamos os honestos! Chegou a hora de decidir se queremos continuar a viver numa democracia ou se preferimos transformá-la em anarquia".

Outra estrela do SBT, Ratinho, foi mais direto e também se tornou hit na internet ao dizer que "a população está de saco cheio".

Aliás, é sempre bom lembrar que o SBT tem helicóptero, mas não Globocop.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O saldo da primeira rodada da Copa das Confederações

Como todo mundo já está cansado de saber, a Copa das Confederações é o segundo maior evento Fifa entre seleções e serve como preparação das equipes que teoricamente serão favoritas no Mundial seguinte. Como todo universo já está cansado de saber, ela está ocorrendo em 2013 no solo brasileiro e teve sua primeira rodada terminada ontem. O blog analisa os desempenhos de todas as equipes nas partidas que abriram o torneio.

BRASIL x JAPÃO
Brasília


O medo de uma derrota logo de cara era evidente durante a preparação da Seleção Brasileira, mas não se justificou em campo no Mané Garrincha. No duelo entre os únicos até então classificados para Copa do Mundo, o Brasil passeou. Aos 3 minutos, gol de Neymar. Aos 3 minutos do segundo tempo, gol de Paulinho. Aos 3 minutos dos acréscimos do segundo tempo (logo, 48m), gol de Jô. Feliz coincidência. 3x0. 3 pontos na classificação. E perspectivas positivas depois de uma partida em que a regularidade foi o destaque, após amistosos em que conseguíamos emplacar o bom futebol durante apenas uma etapa. O desencanto de nosso maior craque após um jejum de 10 partidas também traz indícios animadores para participação brasileira no evento.

MÉXICO x ITÁLIA
Rio de Janeiro

A Itália não tem o toque mágico da Espanha, mas ficou logo atrás dos espanhóis na última Euro, após despachar a Alemanha na Euro não por acaso. O time tem raça. E isso ficou evidente no primeiro jogo oficial do novo Maracanã. Os mexicanos jogaram como time pequeno, buscando apenas alguma chance de contra-ataque e foram punidos por quem tinha mais fome de bola. O gol salvador da Itália veio nos 15 minutos finais de partida. A justiça foi feita. O destaque do 2 a 1 fica com a maestria do veterano Pirlo em seu centésimo jogo com a camisa italiana. 

ESPANHA x URUGUAI
Recife

Apresentações sobre o estilo de jogo arrasador do futebol espanhol são dispensáveis. Os pernambucanos simplesmente assistiram aos passes em loop dos maiores craques da atualidade em ternos de seleção (Messi e Cristiano Ronaldo são praticamente os únicos salvadores de suas equipes). E os uruguaios também. Apesar da má-fase, os sul-americanos tem um time razoável. Mas ele se torna péssimo diante dos excelentes. Excelente, aliás, pode ser considerada a posse de bola, sempre acima dos 70%. O placar pode até enganar, já que a Espanha jogou muito mais do que o dobro do que o Uruguai. O susto do segundo tempo, com o gol uruguaio ao final da partida, apenas serve como um eficiente aviso para dominação ser mais eficiente também no placar.

TAITI x NIGÉRIA
Belo Horizonte


Amadores contra profissionais. 6x1. Mas quem liga para isso quando um dos lados tem carisma? O Taiti foi humilhado? Foi. Foi aplaudido pelos mais de 20 mil que estavam no Mineirão? Também. Mas nenhuma equipe saiu tão feliz do campo nessa primeira rodada quanto a taitiana. Eles foram os únicos que cumpriram seu principal objetivo na Copa das Confederações já de cara. Fizeram um gol. Jonathan Tehau fez história para o Taiti numa segunda-feira histórica para o Brasil. Era o primeiro jogo deles fora da Oceania. E a primeira equipe a representar o continente além de Austrália e Nova Zelândia. E certamente ficará lembrado para sempre na memória dos jogadores, alpinistas e até desempregados que representavam a mais simpática nação a participar do evento. 

sábado, 15 de junho de 2013

A revolução virtual também coloca o povo na rua: Da Primavera Árabe ao Movimento Passe Livre

A mídia constantemente se reinventa. E acaba reinventando tudo que se deriva dela. Mas a maior de todas essas reinvenções parece estar ocorrendo nos últimos 50 anos, com a criação da internet.

 Já são inúmeros os artigos científicos, trabalhos acadêmicos, dissertações e teses sobre a rede mundial de computadores, porém poucos atentam para alguns dos efeitos práticos da grande rede no nosso cotidiano. A era da instantaneidade pode ajudar a politizar uma geração que aparentemente ignoraria o mundo político.

Protestos contra governantes sempre existiram. Desde os que culminaram em guerras até o pacifismo de Gandhi na Índia. No Brasil, os maiores movimentos foram o apelo pelas eleições diretas na década de 1980 e pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992. Nos anos seguintes, apenas marchas evangélicas, homossexuais ou pela liberação do uso de drogas, orquestradas por movimentos com organizações já estabelecidas lotaram as ruas do país. Mas nada melhor para mexer com o brasileiro do que o bolso. Se o país estava afundado em uma profunda crise durante o movimento das Diretas Já e o Fora Collor. Hoje, somos a sexta economia do mundo e passamos longe de um precipício econômico. Mas a leve alta da inflação após anos de estabilidade e o aumento do valor das tarifas do transporte coletivo bastaram para que milhares invadissem as ruas das maiores cidades da nação. Como já dito, há 30 anos tínhamos protestos até mais lotados. Então, o que torna a atual explosão de revolta tão especial? Essa é mais uma reinvenção derivada da criação da internet, como citado no começo.

Segundo o ensaio “A convergência midiática e o papel da televisão digital interativa com ginga”, publicado em “Além das redes de colaboração”, grupos afastados geograficamente já trocavam ideias através de cartas há tempos, porém logo em seguida crava a velocidade da era virtual como o “novo”. E esse “novo” que torna a atual explosão de revolta tão especial. 

Pelas redes sociais, o protesto pode ser marcado com poucas horas de antecedência e mesmo assim obter sucesso. Em um tempo onde todos ficam conectados por todo o tempo, é muito mais fácil unir uma multidão de desconhecidos do que quando o simples planejamento já poderia durar dias ou até semanas. E a internet não tem limites. Serve para unir pessoas de diferentes bairros de uma cidade em um ponto em comum e também para o mundo saber o que está acontecendo nesse ponto em comum. A difusão contínua da mensagem por bytes concretiza um verdadeiro efeito dominó.

E qualquer pessoa pode começar a difundir uma mensagem, diferentemente da TV e do rádio, onde é necessária uma concessão para que o meio seja utilizado, o que acaba os jogando principalmente para grandes conglomerados com ligações políticas. O próprio Fernando Collor, que sofreu impeachment por denúncias de corrupção, é o proprietário da afiliada da TV Globo, o maior conglomerado de mídia do país e 17º do mundo, na frente até mesmo do Facebook. No Rio Grande do Norte, o deputado Henrique Alves é acionista da InterTV Cabugi, enquanto SBT (TV Ponta Negra) e Record (TV Tropical) estão respectivamente ligados a Micarla de Sousa e José Agripino Maia.

Nas redes sociais, por sua vez, o território é livre. Qualquer anônimo com boas ideias pode fazer com que suas mensagens ganhem mais eco que a de figuras teoricamente mais representativas. Aliás, essa liberdade de participação é o marco dos mais recentes grupos que organizam protestos, seja o Movimento Passe Livre em São Paulo ou o Revolta do Busão em Natal.

Nelas, os vídeos que não ganham espaço no apertado tempo de Jornal Nacional, chegam à casa dos milhões de visualizações. É assim que a agressividade inexplicável dos policiais seja nos protestos na capital potiguar ou na paulista chegou ao conhecimento de muitas pessoas.



Ainda em menor escala, o Brasil pode comparar sua situação com a da Primavera Árabe. No Oriente Médio, boa parte dos movimentos também foram iniciados na World Wide Web. Os egípcios, por exemplo, começaram o movimento pela saída do presidente Hosnir Mubarak. o marcando pela tag #25jan no Twitter (25 de janeiro de 2011). Ele acabaria saindo em 11 de fevereiro.

Na Síria, as imagens oficiais são desmentidas sempre que surge um novo vídeo da real situação divulgado pelos rebeldes. No Brasil, também foram lentes de moradores de prédios que flagraram a agressão de 7 policiais contra 1 jornalista desarmado nas manifestações paulistanas.

No atual mundo dos manifestantes, tudo é em um clique. Desde a marcação dos eventos até o compartilhamento do que ocorre neles. E esses cliques derivam o conteúdo que é visto depois nas capas de jornais, escaladas de noticiários e diversos outros meios tradicionais. De fato, o mundo se tornou uma grande aldeia em que todos são simultaneamente produtores e receptores de conteúdo.