sábado, 15 de junho de 2013

A revolução virtual também coloca o povo na rua: Da Primavera Árabe ao Movimento Passe Livre

A mídia constantemente se reinventa. E acaba reinventando tudo que se deriva dela. Mas a maior de todas essas reinvenções parece estar ocorrendo nos últimos 50 anos, com a criação da internet.

 Já são inúmeros os artigos científicos, trabalhos acadêmicos, dissertações e teses sobre a rede mundial de computadores, porém poucos atentam para alguns dos efeitos práticos da grande rede no nosso cotidiano. A era da instantaneidade pode ajudar a politizar uma geração que aparentemente ignoraria o mundo político.

Protestos contra governantes sempre existiram. Desde os que culminaram em guerras até o pacifismo de Gandhi na Índia. No Brasil, os maiores movimentos foram o apelo pelas eleições diretas na década de 1980 e pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992. Nos anos seguintes, apenas marchas evangélicas, homossexuais ou pela liberação do uso de drogas, orquestradas por movimentos com organizações já estabelecidas lotaram as ruas do país. Mas nada melhor para mexer com o brasileiro do que o bolso. Se o país estava afundado em uma profunda crise durante o movimento das Diretas Já e o Fora Collor. Hoje, somos a sexta economia do mundo e passamos longe de um precipício econômico. Mas a leve alta da inflação após anos de estabilidade e o aumento do valor das tarifas do transporte coletivo bastaram para que milhares invadissem as ruas das maiores cidades da nação. Como já dito, há 30 anos tínhamos protestos até mais lotados. Então, o que torna a atual explosão de revolta tão especial? Essa é mais uma reinvenção derivada da criação da internet, como citado no começo.

Segundo o ensaio “A convergência midiática e o papel da televisão digital interativa com ginga”, publicado em “Além das redes de colaboração”, grupos afastados geograficamente já trocavam ideias através de cartas há tempos, porém logo em seguida crava a velocidade da era virtual como o “novo”. E esse “novo” que torna a atual explosão de revolta tão especial. 

Pelas redes sociais, o protesto pode ser marcado com poucas horas de antecedência e mesmo assim obter sucesso. Em um tempo onde todos ficam conectados por todo o tempo, é muito mais fácil unir uma multidão de desconhecidos do que quando o simples planejamento já poderia durar dias ou até semanas. E a internet não tem limites. Serve para unir pessoas de diferentes bairros de uma cidade em um ponto em comum e também para o mundo saber o que está acontecendo nesse ponto em comum. A difusão contínua da mensagem por bytes concretiza um verdadeiro efeito dominó.

E qualquer pessoa pode começar a difundir uma mensagem, diferentemente da TV e do rádio, onde é necessária uma concessão para que o meio seja utilizado, o que acaba os jogando principalmente para grandes conglomerados com ligações políticas. O próprio Fernando Collor, que sofreu impeachment por denúncias de corrupção, é o proprietário da afiliada da TV Globo, o maior conglomerado de mídia do país e 17º do mundo, na frente até mesmo do Facebook. No Rio Grande do Norte, o deputado Henrique Alves é acionista da InterTV Cabugi, enquanto SBT (TV Ponta Negra) e Record (TV Tropical) estão respectivamente ligados a Micarla de Sousa e José Agripino Maia.

Nas redes sociais, por sua vez, o território é livre. Qualquer anônimo com boas ideias pode fazer com que suas mensagens ganhem mais eco que a de figuras teoricamente mais representativas. Aliás, essa liberdade de participação é o marco dos mais recentes grupos que organizam protestos, seja o Movimento Passe Livre em São Paulo ou o Revolta do Busão em Natal.

Nelas, os vídeos que não ganham espaço no apertado tempo de Jornal Nacional, chegam à casa dos milhões de visualizações. É assim que a agressividade inexplicável dos policiais seja nos protestos na capital potiguar ou na paulista chegou ao conhecimento de muitas pessoas.



Ainda em menor escala, o Brasil pode comparar sua situação com a da Primavera Árabe. No Oriente Médio, boa parte dos movimentos também foram iniciados na World Wide Web. Os egípcios, por exemplo, começaram o movimento pela saída do presidente Hosnir Mubarak. o marcando pela tag #25jan no Twitter (25 de janeiro de 2011). Ele acabaria saindo em 11 de fevereiro.

Na Síria, as imagens oficiais são desmentidas sempre que surge um novo vídeo da real situação divulgado pelos rebeldes. No Brasil, também foram lentes de moradores de prédios que flagraram a agressão de 7 policiais contra 1 jornalista desarmado nas manifestações paulistanas.

No atual mundo dos manifestantes, tudo é em um clique. Desde a marcação dos eventos até o compartilhamento do que ocorre neles. E esses cliques derivam o conteúdo que é visto depois nas capas de jornais, escaladas de noticiários e diversos outros meios tradicionais. De fato, o mundo se tornou uma grande aldeia em que todos são simultaneamente produtores e receptores de conteúdo.

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