quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Pela primeira vez em 14 anos, JN deixa redação-estúdio

“Um desastre põe o Brasil em estado de choque”. Foi assim que se abriu a edição de 13 de agosto de 2014 do Jornal Nacional, às 20h20, mais cedo do que o habitual, já que o tempo limite do encerramento nas quartas não é elástico devido ao futebol.

O termo “choque” já havia sido utilizado mais cedo por William Bonner em seu Instagram. É assim que muitos brasileiros poderiam definir seus sentimentos conforme a tarde foi revelando detalhes da tragédia que vitimou fatalmente o ex-governador pernambucano Eduardo Campos.

Bonner certamente estava mais do que a maioria, afinal, esteve ao lado de Eduardo horas antes do acidente, quando o candidato foi sabatinado no Jornal Nacional, dentre a série de entrevistas dos presidenciáveis.

William e Patrícia Poeta estavam em Brasília ontem para o sequenciamento das conversas. A ouvida nessa quarta-feira seria Dilma Rousseff. As entrevistas dela e do pastor Everaldo foram adiadas em comum acordo para a próxima semana.

Já haviam sido questionados Aécio Neves e o próprio Eduardo, que foi perguntado sobre polêmicas de sua trajetória, como a indicação da mãe Ana Arraes para o Tribunal de Contas da União.

Mas a frase que entrou para história foi a de seu discurso final na bancada: “Não vamos desistir do Brasil”.

No encerramento da edição quase que totalmente especial sobre a sua morte, foram exibidas imagens dos bastidores da entrevista do dia anterior.

O dia ficou marcado ainda pelo retorno do repórter Júlio Mosquéra para Brasília após anos como correspondente em Nova York. E o telejornal excepcionalmente foi transmitido ao vivo também pela internet.

Nenhum representante no RJ

A tragédia ocorreu em São Paulo, o estado de origem de Campos é Pernambuco e a base do JN é no Rio de Janeiro, mas a edição foi completamente feita de Brasília, justamente para sabatina com Dilma, que seria feita no Palácio da Alvorada.

Porém, a ideia original era que Heraldo Pereira ficasse na bancada do estúdio-redação para repercutir outras notícias do dia. Mas ele acabou viajando ao Rio somente para fazer os boletins entre Malhação e Geração Brasil.

Foi a primeira vez desde a estreia do novo conceito em que o JN abandonou sua “casa” por completo na edição. Em 2007, quando ocorreu a tragédia aérea da TAM em Congonhas, William Bonner foi deslocado para o local do acidente no dia seguinte, o que fez Fátima Bernardes, que até então cobria os Jogos Panamericanos direto dos locais de competições retornar ao estúdio.

O estúdio do DFTV, que já foi improvisado para Bonner falar com Dilma após a vitória em 2010, agora foi ocupado pela dupla titular do telejornal.

Apesar de falhas que deixaram evidentes os reflexos dos telões, a edição foi tecnicamente boa no cenário diferente. Não aconteceram falhas de áudio ou grandes intervalos no contato com os links.

Por falar em áudio, o telejornal foi encerrado sem a trilha, evidenciando o sentimento de luto. As imagens exibidas enquanto os créditos subiam foram da própria capital federal. Na despedida, Bonner e Poeta também dispensaram o “boa noite” e se resumiram em um “até amanhã!”.

O expediente também foi adotado no Jornal da Record e no SBT Brasil.

O Jornal da Globo derrubou o Placar da Rodada e teve William Waack voltando para bancada. Na tarde, ele entrou ao vivo por telefone no Plantão do JH direto de um centro da Aeronáutica no Rio de Janeiro, onde participava de treinamentos.

Waack exibiu seus conhecimentos técnicos sobre aviação em explanações no telão do JG. Outro destaque da edição foi a exibição indireta de imagens da Record News no site do jornal El País enquanto se falava sobre a repercussão internacional da tragédia.

Cobertura da morte de Eduardo Campos repercute nas principais emissoras brasileiras

Era um acidente aéreo de pequenas proporções. Virou um dos mais emblemáticos desastres da história do Brasil.

Na manhã desta última quarta-feira, se falou sobre uma tragédia que mais combina com o terror associado quando a data cai na sexta-feira. Inicialmente, um helicóptero teria caído sobre uma academia em Santos, SP.


Hoje em Dia, Jogo Aberto e Encontro abriram um espaço rápido para noticiar o acidente, ainda com imagens enviadas por cinegrafistas amadores. Globo News e Record News repercutiam em tempo real na mesma base.

Mas logo começou um burburinho nas redes sociais. O presidenciável Eduardo Campos tinha agenda na região e já estava atrasado em 2 horas. A FAB confirmou que o avião havia saído do Rio de Janeiro, onde Campos esteve na terça-feira para falar ao vivo no Jornal Nacional. Os dados batiam. Só faltava a confirmação.

Eis que ela veio em doses homeopáticas. Primeiramente por fontes do PSB, depois pelas autoridades: os 7 ocupantes da aeronave não haviam sobrevivido. Entre eles, Campos.

As confirmações iniciais na TV foram dadas por Aline Midlej, na Band, e Reinaldo Gottino, na Record.

Na Globo, Evaristo Costa interrompeu os telejornais locais sem nenhuma vinheta às 12h41 para noticiar sobre o acidente. Por duas vezes, pareceu encerrar o boletim e logo depois retomou as notícias ainda desencontradas sobre a até então presença de Eduardo Campos no voo acidentado.

Somente após 15 minutos e a chegada de Sandra Annenberg para cobertura especial foi que Cristina Serra, em link de Brasília e se baseando em nota da Aeronáutica, confirmou o falecimento do ex-governador de Pernambuco.

A partir daí, ficou claro que a cobertura seguiria direto por horas, como se confirmou. A tela da Globo ganhou caracteres fixos que informavam sobre a tragédia.

Com a cobertura avançando, além do restante dos telejornais locais, foram cancelados também o Globo Esporte e o Vídeo Show.

A cobertura global teve somente um intervalo comercial, já praticamente às 14h. Foi tão apressada que não houve tempo nem mesmo de Evaristo vestir seu terno. Ele e Sandra retornaram em praticamente todos os breaks da Sessão da Tarde e do Vale a Pena Ver de Novo, exibindo, dentre outras repercussões, a do governador de Pernambuco, da presidente Dilma e de Marina Silva.

Ambos mostraram maturidade para abordagem da pauta sem apelação para o sensacionalismo, apesar da evidente desconcentração com o volume de informação. Destacou-se também a postura do repórter José Roberto Burnier em contato direto com testemunhas oculares da tragédia. Entre choros e depoimentos abalados, ele conseguia colher o que interessava ao público sem infringir os limites.

Quando acionada, a equipe local também não decepcionou e soube usar a favor o fato de saber mais detalhes da região.


A Record teve uma cobertura mais dispersa de início. O Balanço Geral SP, de Reinaldo Gottino, foi entrando ao ar ao gosto de cada praça. Umas o viram na íntegra, outras cortaram para exibição de horários locados...

Somente a partir do Programa da Tarde, quando Gottino e Adriana Araújo foram integrados com Britto Jr. para cobertura que houve uma exibição nacional, prosseguida por Marcelo Rezende no Cidade Alerta.

No SBT, Patrícia Rocha e Roberto Cabrini se revezaram em boletins, sendo alguns até longos para o padrão do canal.

A Band trocou Aline Midlej por José Luiz Datena, que está em Brasília para dar uma palestra no Exército, por volta das 13h, sendo que às 15h ele deu lugar ao Tá na Tela, de Luiz Bacci.

E o novo contratado do canal não fugiu do estilo mostrado nas 6 edições anteriores de seu programa. Muito sensacionalismo e teorias absurdas sendo levantadas sem nenhum indício, como a possibilidade de sobreviventes embaixo de escombros ou de que somente o vento teria derrubado a aeronave.

O programa chegou a picos de vice-liderança em alguns momentos. E não foi o único a ter seus índices incrementados. A Globo, por exemplo, praticamente dobrou seus índices. Beirou os 20 pontos na faixa em que mal ultrapassa 1 dígito.

Foram números similares aos das partidas da Copa do Mundo no mesmo horário, mas infelizmente por uma tragédia que ninguém podia esperar.


Em resumo, as pautas de todas as atrações podem ter convergido para o mesmo trágico fato, mas cada um manteve seu perfil. Foram diversas as formas de se contar a história do dia em que a corrida presidencial brasileira foi abalada por uma tragédia numa das mais tristes páginas de nossa história política.

RIP Eduardo Campos: jornais