sábado, 31 de agosto de 2013

Organizações Globo: Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro, leia nota

Diante de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964.

A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal do Brasil” e o “Correio da Manhã”, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais.

Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos — Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” — e de alguns segmentos das Forças Armadas.

Na noite de 31 de março de 1964, por sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo Almirante Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo editorial: “Ressurge a Democracia”.

A divisão ideológica do mundo na Guerra Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e capitalistas, se reproduzia, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart, iniciada tão logo conseguiu, em janeiro de 1963, por meio de plebiscito, revogar o parlamentarismo, a saída negociada para que ele, vice, pudesse assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros. Obteve, então, os poderes plenos do presidencialismo. Transferir parcela substancial do poder do Executivo ao Congresso havia sido condição exigida pelos militares para a posse de Jango, um dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele tempo, votava-se no vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma combinação ideológica contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente da UDN e o vice do PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise institucional.

A situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros — Cabo Ancelmo à frente —, a hierarquia militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu.

Naquele contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Os militares prometiam uma intervenção passageira, cirúrgica. Na justificativa das Forças Armadas para a sua intervenção, ultrapassado o perigo de um golpe à esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto que, como prometido, foram mantidas, num primeiro momento, as eleições presidenciais de 1966.

O desenrolar da “revolução” é conhecido. Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa. No ano em que o movimento dos militares completou duas décadas, em 1984, Roberto Marinho publicou editorial assinado na primeira página. Trata-se de um documento revelador. Nele, ressaltava a atitude de Geisel, em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o principal deles o AI5, restabeleceu o habeas corpus e a independência da magistratura e revogou o Decreto-Lei 477, base das intervenções do regime no meio universitário.

Destacava também os avanços econômicos obtidos naqueles vinte anos, mas, ao justificar sua adesão aos militares em 1964, deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana. E, ainda, revelava que a relação de apoio editorial ao regime, embora duradoura, não fora todo o tempo tranquila. Nas palavras dele: “Temos permanecido fiéis aos seus objetivos [da revolução], embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir a autoria do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o marechal Costa e Silva, ‘por exigência inelutável do povo brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento’ ou ‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários.”

Não eram palavras vazias. Em todas as encruzilhadas institucionais por que passou o país no período em que esteve à frente do jornal, Roberto Marinho sempre esteve ao lado da legalidade. Cobrou de Getúlio uma constituinte que institucionalizasse a Revolução de 30, foi contra o Estado Novo, apoiou com vigor a Constituição de 1946 e defendeu a posse de Juscelino Kubistchek em 1955, quando esta fora questionada por setores civis e militares.

Durante a ditadura de 1964, sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda: como é notório, fez questão de abrigar muitos deles na redação do GLOBO. São muitos e conhecidos os depoimentos que dão conta de que ele fazia questão de acompanhar funcionários de O GLOBO chamados a depor: acompanhava-os pessoalmente para evitar que desaparecessem. Instado algumas vezes a dar a lista dos “comunistas” que trabalhavam no jornal, sempre se negou, de maneira desafiadora.

Ficou famosa a sua frase ao general Juracy Magalhães, ministro da Justiça do presidente Castello Branco: “Cuide de seus comunistas, que eu cuido dos meus”. Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O GLOBO, nos períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares, sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática.

Contextos históricos são necessários na análise do posicionamento de pessoas e instituições, mais ainda em rupturas institucionais. A História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los.

Os homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país. À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Você acha que todo jovem tem motivos para ser rebelde?


"Você acha que todo jovem tem motivos para ser rebelde?". Com essa simples pergunta, de mansinho, o SBT iniciava em 2005 a divulgação da novela que se tornaria mania nacional. 8 anos depois, a pergunta foi substituída pela afirmação "Eles não são mais crianças, mas também não são adultos". A frase se refere aos estudantes do Elite Way School, fictícia instituição que funciona em sistema de internato e onde se passa boa parte da trama, mas também pode ser facilmente aplicada aos fãs de Rebelde, público normalmente ignorado pela TV aberta, que tem em uma atualmente fraca Malhação (que voltou ao seu padrão de obviedade após uma grata temporada fora do curso) a única produção de dramaturgia voltada aos seus hábitos no ar.

Os genéricos: Sucesso para os padrões da Record, porém sempre na sombra dos seus inspiradores

De 2005 para cá, a autointitulada geração Rebelde viu até mesmo uma versão nacional do folhetim ser idealizada pela Record. A aventura até alçou bons resultados iniciais, mas tanto a trama quanto a banda acabaram sendo rapidamente esquecidas pelo grande público após acabarem. Fenômeno que se repetiu na Argentina, em Portugal... Originais ou não, os mexicanos é que sacaram bem o espírito de rebeldia.

No centro do poder e também no do futebol: Fãs do RBD lotaram o Maracanã

E o SBT logo sacou a oportunidade que tinha. A exibição no Brasil começou menos de 1 ano após a estreia no México, uma diferença mínima se compararmos o histórico das parcerias entre o canal e a Televisa. Seja propositalmente ou não, esse pequeno intervalo permitiu que o estouro do grupo RBD, oriundo do sexteto protagonista da novela, acontecesse simultaneamente por toda a América Latina. E até nos Estados Unidos, com direito a DVD gravado em Hollywood, que pode ter sido o mais charmoso, porém passou longe de ser o que mais atraiu pessoas para sua gravação. Esse posto fica com os 800 mil brasilienses que lotaram a Esplanada dos Ministérios para o show do grupo. Virou até notícia na Globo. E em seu canal de notícias.

Infelizmente, o burburinho provocado pela novela se tornou notícia na emissora líder também pelo grave acidente ocorrido durante uma tarde de autógrafos em um supermercado de São Paulo. Dias depois, o ainda abalado grupo falou ao SBT sobre a tragédia. A mais triste das participações do grupo na programação do canal, porém longe de ser a única. O RBD passou do Charme ao Domingo Legal. E o grupo deu seu "Olá, tudo bem?" até no Domingo Espetacular. Aliás, o show de despedida do grupo em São Paulo também foi transmitido pela Record.

Será que a Dilma topa receber o grupo caso o retorno se confirme?

São Paulo, que assim como Brasília, Manaus, Belém, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro pode acompanhar a histeria coletiva de adolescentes com shows do grupo. Mais contido, até mesmo o então presidente Lula recebeu o sexteto.

A repetição desse fenômeno agora parece mais complicada, já que o RBD continua separado e muitas de suas estrelas vem conseguindo bom êxito em seus projetos solo, incluindo as turnês no próprio Brasil. Mas há quem garanta que o retorno da banda esteja programado para 2014 e arrisque até mesmo a programação de uma série de shows pelo Brasil durante a Copa do Mundo. Mas o SBT deve mesmo é querer que Mia, Roberta, Lupita, Miguel, Diego e Giovanni sigam batendo um bolão em termos de Ibope. Apesar de dançarem pela grade conforme a sintonia de Silvio Santos, as três temporadas da novela emplacaram excelentes números. Nota de 2006 relembra o folhetim com 14 pontos de média e 16 de pico. Sucesso que obviamente rendeu licenciamentos, como as versões Barbie das protagonistas. E até mesmo diversas premiações influenciadas pelo voto popular.

Se a história vai se repetir? Os dramas dos adolescentes mexicanos certamente sim, mas nós e o SBT teremos que acompanhar tudo de novo caso o interesse seja também na "reprise" dos excelentes índices. A principal música do grupo diz que "tem que apostar, tem que apostar sem medo". E isso que a cúpula da Anhanguera fez. Porém, a mesma letra também diz que "tudo na vida é perder ou ganhar". Como será a vida da mais mexicana das emissoras brasileiras após essa e tantas outras mudanças recentes? É o que passaremos a descobrir a partir de segunda, às 21h15.

"Flamengo é Flamengo"

A frase é de Ronaldinho Gaúcho, hoje no Atlético-MG, justamente rival do Cruzeiro, mas que também foi eliminado ontem, abrindo espaço para o clássico carioca nas quartas de final da Copa do Brasil. R10 a pronunciou para ilustrar as chances que o Flamengo tinha de o contratar, o que realmente acabou ocorrendo depois. Mas o ídolo da vez na Gávea é outro. Menos dentuço e mais eficiente na hora H. E que hora H! 42 minutos do 2º tempo do 2º jogo de um mata-mata. De longe, a classificação mais sofrida. E também a mais festejada. Afinal, Flamengo é Flamengo.


Mas qual será a combinação para o 14º colocado no Brasileirão conseguir bater o líder? As 11 peças em campo foram fundamentais, mas 53 mil que ocupavam as arquibancadas do Maracanã foram ainda mais. Sim, a maior torcida do mundo faz a diferença. E não se cansa de provar isso.