segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

SuceSochi 2014

A Olimpíada de Inverno de Sochi parece ter decidido cumprir exatamente o que seu slogan prometia. Além de quente nas disputas e fria nas temperaturas, foi também nossa. Apesar do desempenho pífio, a maior delegação brasileira de todos os tempos teve também a maior cobertura televisiva já feita sobre a gelada competição.

Se a veterana Isabel Clark decepcionou no snowboard, a Globo não teve um revés em seu histórico por Sochi. Pelo contrário. A emissora que mal noticiava os Jogos de Turim 2006 em seus telejornais (e não teve os direitos de transmissão de Vancouver 2010) dedicou minutos diários ao evento em praticamente todos os seus telejornais de rede (com exceção ao Jornal Hoje, já que esse é precedido pelo Globo Esporte). Por muitos dias, mais se falou sobre curling no Jornal Nacional do que sobre futebol.

Ponto também para o bem sucedido boletim da madrugada. Experiência testada primeiramente na Paralimpíada de Londres, a exibição de um programete de cerca de 30 minutos com o resumo diário do evento avançou muito com o apresentador e ex-judoca Flávio Canto finalmente soando tão naturalmente na televisão quanto nos tatames. O pacote visual com Globolinhas para quase todas as modalidades e a procura em sempre receber especialistas no que era comentado fez a diferença.

Preocupação que não foi similar na Record. A ginasta Luisa Parente por muitas vezes esteve nas transmissões da Barra Funda falando sobre patinação. Apesar da bela estética proporcionada por ambas as provas, as diferenças claras poderiam ter pesado para a procura de um nome mais técnico. Aliás, o canal infelizmente cumpriu o “anunciado” pela coluna antes mesmo do mundo se reunir para o fogo olímpico ser aceso na Rússia.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

Com duração maior do que o concorrente, o Jornal da Record muitas vezes abriu menos espaço para cobertura olímpica do que o JN. Será que a inexperiência no esporte pesou tanto para o canal quanto para nossa jovem patinadora Isadora Williams?

Mas quem queria acompanhar eventos ao vivo em TV aberta teve que se contentar com Record News e Band. Apesar de não terem nenhum profissional enviado para Sochi, ambas foram as emissoras que acumularam mais horas no ar com competições. E incrementaram a audiência em faixas horárias em que beiravam o traço. Aliás, juntando-se todas as transmissões de agora contra a exclusiva da Record há quatro anos, é perceptível um crescimento de 30% na audiência. Ou seja, o brasileiro nunca antes prestigiou tanto os esportes gelados. E isso excluindo da conta o SporTV, que chegou a exibir 12 horas consecutivas de competições em determinados dias. O BandSports também dedicou boa parte de sua programação ao evento.


A repercussão foi tamanha que até mesmo importamos uma musa russa: Anna Sidorova. Ao som do Molejo, a bela capitã da equipe de curling da antiga União Soviética rendeu algumas das tantas belas imagens proporcionadas pelo espírito olímpico. O hit chiclete “Oh, Sidorova, eu sou seu fã” virou pauta até mesmo na TV dinamarquesa. O bom humor reinou ainda com os profissionais brasileiros no Centro de Imprensa Internacional. Com os países nórdicos destacando suas medalhas nas portas do estúdio, a saída encontrada pelos nossos compatriotas foi o destaque ao escudo da CBF com uma emblemática mensagem: “Vemos vocês em junho”.

Só que apesar da Copa estar chegando, todos esses canais se reunirão novamente numa transmissão poliesportiva somente no Rio de Janeiro em 2016 (a Record nem mesmo exibe o Mundial). É esperar que os erros cometidos agora sejam uma lição do que deve ser consertado e não um indício do que acontecerá daqui a dois anos.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Em duelo vespertino, Bacci dá mais Ibope que Zeca

Nos últimos dias, um confronto entre dois produtos que recentemente passaram por alterações vem sacudindo o início das tardes na televisão paulistana. Trata-se do duelo entre o Balanço Geral de Luiz Bacci e o Vídeo Show de Zeca Camargo.

Os apresentadores acumulam pontos em comum, como terem trabalhado em emissoras que não estão mais no ar (Bacci na Manchete e Zeca na MTV Brasil) e terem tido mudanças de ramo em seus rumos na TV. O atual comandante do jornalístico da Record chegou a apresentar programas de entretenimento (o Fantasia, ao lado de Hellen Ganzarolli e Caco Rodrigues, é um deles). Zeca fez o caminho contrário recentemente após mais de uma década comandando o Fantástico.

Em seus novos papéis, os jornalistas tem tido desempenhos diferentes na audiência. Bacci até mesmo elevou os já bons números que herdou de Geraldo Luis e passou a liderar contra o tradicional programa global com frequência. Repleto de ironia, o Balanço chegou a ser encerrado nessa semana ao som de Don't Stop 'Til You Get Enough, a música de Michael Jackson que embala a trilha do Vídeo Show.

Já na Globo, a audiência que não anda tão show quanto o título do programa... O novo formato comandado por Zeca costuma marcar números inferiores aos dos três programas que o antecedem (SPTV, Globo Esporte e Jornal Hoje). Agora ficou ainda mais frágil perdendo a preciosa espera pelo Vale a Pena Ver de Novo ao longo dos minutos finais.

Mas muito além do desempenho dos apresentadores, os números refletem uma diferença no pensamento das emissoras e que pode ter pesado nas respectivas variações.

A Record percebeu o que agrada ao público do Balanço: jornalismo ao vivo, casos curiosos (e até mesmo bizarros) e polêmicas exageradas (como o caso do suposto abandono de uma avó da atriz Sthefany Brito). Mudou-se quem liga esses pontos, mas a essência é a mesma.

Já a Globo ousou muito ao reformular o Vídeo Show. O programa que se notabilizou por mostrar os bastidores do canal deixou as matérias sobre as produções da casa e suas estrelas em segundo plano para priorizar entrevistas com os famosos, algo que Mais Você, Encontro, Estrelas, Caldeirão do Huck, Altas Horas, Esquenta, Domingão do Faustão e Programa do Jô frequentemente fazem.

O atual êxito do Balanço Geral, que coincide com a excelente fase que o Cidade Alerta, outro jornalístico popular, vive há mais de um ano, nos lembra de outros casos de grandes sucessos da Record foram baseados em apostas que dificilmente seriam vistas na Globo, enquanto muitos produtos “clonados” fracassaram... Isso mostra que não basta um produto ser bom, mas que ele também deve ter identidade própria.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pressão da web pauta até mesmo o Jornal Nacional

A coluna já falou sobre os novos tempos que a Globo vem vivendo com mais inovação em seus produtos e uma programação mais elástica.

Mas a mudança de postura do canal não está somente na criação de novas atrações ou no encaixe horário delas. Provas de que programas consagrados também podem ter doses de ousadia foram dadas ontem.

Primeiramente, o sempre brincalhão Globo Esporte SP respondeu aos comentários reclamando pela não exibição da Taça Libertadores da América ao estado. “Agora queria falar com você que errou pênalti na Copa do Brasil, jogou na mão do Dida, você que não jogou bem o Campeonato Brasileiro, não foi bem na Sul-Americana. Por sua causa, ontem, não teve futebol aqui no estado de São Paulo”, disse o apresentador Tiago Leifert.

O programa ainda mostrou imagens da equipe do Globo Esporte Rio acompanhando o Flamengo no México, da edição gaúcha no Uruguai com o Grêmio e dos mineiros se dividindo entre Peru (Cruzeiro) e Venezuela (Atlético-MG). Enquanto isso, como o próprio disse, os paulistas ficaram em casa conferindo filme. O que deve se repetir muitas vezes pelo menos até o início da Copa do Brasil, em março. 

A bem-humorada resposta também se justifica pela raridade do fato. São Paulo emplacava pelo menos um representante no principal torneio de futebol do continente há 15 anos.

Se as equipes não colaboraram, pelo menos o filme de quarta tinha a Charlize Teron, como destacou Leifert. E o público paulista aparentemente preferiu a saída de mestre. O Cinema Especial rendeu 20 pontos, mais do que boa parte dos insossos jogos da primeira fase do Paulistão, porém menos do que a Libertadores tradicionalmente marcava em SP e do que a própria competição cravou no Rio de Janeiro (Flamengo x León marcou 23 pontos, maior audiência do futebol em 2014 na capital fluminense até agora).

Por enquanto, a opção é plenamente compreensível. Mesmo com São Paulo sendo cosmopolita, o interesse em qualquer um dos jogos desta 1ª fase seria restrito aos mais fanáticos. Com boa vontade, o início das transmissões da Libertadores deveria ocorrer nas quartas de final (a saga do Atlético-MG na edição passada foi vista em rede nacional a partir das semifinais). Mas passa longe de ser um absurdo como a não exibição de jogos do próprio Galo no Mundial de Clubes, por exemplo.

Resposta dada aos fãs de esporte, a noite teria ainda um esclarecimento direto sobre outro tema que repercutiu nas redes sociais, como citou William Bonner ao chamar a matéria do Jornal Nacional que investigou os boatos de que Caio Silva de Souza não seria o autor do lançamento do rojão que mataria o cinegrafista Santiago Andrade.

Com auxílio do perito Nelson Massini, a reportagem de Bette Lucchese esclareceu que o ângulo da foto que mostra a fuga de Caio apenas dá a impressão dele ser mais forte. O “detetive virtual” também desmistificou fotos de outro homem com vestes similares de Caio poder se o lançador do artefato. Segundo Massini, a coloração de todas as roupas tem diferenças.

Ou seja, a Globo “prestou contas” no mesmo dia por dois fatos, se safando com eficiência das acusações de desvalorizar o esporte brasileiro ou de encobrir um suposto criminoso. Sem a soberba de outros tempos, o canal dá bons passos ao encontrar o caminho que faz com que suas pautas coincidam com o interesse popular.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

Cobertura do caso Santiago Andrade une emissoras

A união da mídia (principalmente televisiva) em busca de punição aos suspeitos do assassinato do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, segue surpreendendo.


Na tarde desta quarta-feira, o Estúdio i, programa diário exibido pela Globo News, levou ao ar imagens de Caio Silva de Souza, o suspeito de atirar o rojão que feriu fatalmente Santiago, se envolvendo em uma confusão poucos minutos antes de cometer o ato. O curioso é que as imagens são da TV Record, que foi devidamente creditada com seu logo na tela e também pelos GCs. O canal paulista as exibe desde terça.

O primeiro plantão da Globo do ano foi justamente sobre a prisão do black bloc. Dos estúdios da Globo News, Ana Paula Araújo interrompeu a programação às 4h38. Ela ainda retornaria em outros dois boletins antes do início do Bom Dia Brasil para atualizar as informações e exibir as primeiras imagens de Caio após a detenção.

O agora preso falou rapidamente com a repórter Bette Luchese, que acompanhou os policiais cariocas na busca, e admitiu ter acendido o rojão. Curiosamente, ele preferiu ficar calado quando falou com os policiais.

Além da cobertura nos telejornais, a Globo também promoveu interrupções no Mais Você para mostrar a chegada do voo que trazia o suspeito e também exibiu trechos da entrevista coletiva sobre a prisão ao vivo no Encontro.

O canal acompanha o caso de perto desde quando Santiago ainda lutava pela vida. Na segunda-feira, o Jornal Nacional foi encerrado em silêncio e contou com um editorial que pedia firmemente punição aos envolvidos no ato. 

Ontem, a edição também foi recheada pelo caso. Dos 26 minutos de conteúdo da versão exibida para rede nacional (por não ter representantes na Taça Libertadores e consequentemente não exibir futebol ontem, o estado de São Paulo conferiu um bloco extra), todos os 16 do primeiro bloco foram sobre a prisão de Caio. A escalada teve somente duas outras notícias: um protesto do MST em Brasília e o processo de cassação do deputado Natan Donadon. No site do telejornal, os 3 vídeos mais assistidos tem relação com o caso Santiago Andrade.

A própria Band também teve boletins especiais sob o comando de Patrícia Maldonado e todas as outras emissoras vêm fazendo uma ampla cobertura sobre as investigações em seus telejornais. Um raro momento de harmonia entre nossos grandes conglomerados, que compartilham a ideia de que a morte de Santiago Andrade não pode ter sido em vão.

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Dor e revolta estampam capas de jornais sobre Santiago Andrade

Salva de palmas foi para cinegrafista, mas também seria merecida para o Jornal Nacional

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

Uma edição de Jornal Nacional foi encerrada em luto por um jornalista pela terceira vez na história. E pela primeira para um profissional que não fazia parte do canal.

Se Tim Lopes, morto enquanto tentava investigar o mundo do tráfico, e Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, já haviam deixado a redação do principal telejornal do país em clima de pesar, essa segunda-feira ficará marcada pela homenagem ao cinegrafista da Band Santiago Andrade.


Mas não é somente pelo simbolismo desse gesto que o Jornal Nacional de hoje ficará marcado. Em um raro editorial (o mais recente havia sido durante as manifestações de junho), William Bonner posicionou a opinião da TV Globo sobre os fatos que culminaram na morte do repórter cinematográfico.

Com a firmeza que o momento pedia, Bonner destacou a necessidade do trabalho jornalístico na democracia, condenou a violência de grupos infiltrados, se solidarizou com a família de Santiago e cobrou punição aos envolvidos no crime. As reportagens do dia também foram completas e bem ordenadas. Da trajetória premiada de Santiago narrada pelo sempre belo texto de Pedro Bassan ao depoimento emocionado da agora viúva para Bette Lucchese e passando pela repercussão ao vivo da entrevista coletiva concedida há pouco pelo delegado que investiga o caso e de mais um protesto que ocorria no Centro do Rio de Janeiro - o Jornal da Globo seguiu com boletins durante a programação noturna da emissora -, a notícia do dia foi contemplada de forma precisa e sem sensacionalismo.

Os aplausos ao final do Jornal Nacional foram para Santiago, mas a edição realizada ontem também é digna de uma salva de palmas. Cumpriu seu papel em eternizar mais uma triste página de nosso telejornalismo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Casos Santiago Andrade e Rachel Sheherazade possuem semelhanças

Dois temas diretamente relacionados ao telejornalismo pautaram o Brasil nos últimos dias. Dois assuntos teoricamente bem diferentes, mas que tem inúmeras semelhanças entre eles.

No estúdio em São Paulo, o comentário polêmico da apresentadora. Nas ruas do Rio de Janeiro, a agressão covarde ao cinegrafista. Em gabinetes e redes sociais, muita conversa. E só. Na última terça-feira, Rachel Sheherazade emitiu a sua tradicional opinião diária na bancada do SBT Brasil. Nada demais, não fosse provavelmente a mais controversa nos cerca de três anos em que ela ocupa o posto. Tão controversa que fez a apresentadora ser entrevistada pelo seu companheiro Joseval Peixoto dias depois.

O destaque que a fala da jornalista concedeu ao caso do menor que foi amarrado em um poste e agredido no Rio de Janeiro fez com que o caso se tornasse a capa da revista Veja e ecoasse também em matérias no Domingo Espetacular e no Fantástico.

Dois dias depois do comentário de Rachel, as ruas do Rio foram palco de outra agressão. Dessa vez fatal, como infelizmente viria a se confirmar nesta segunda. Santiago Andrade, cinegrafista da Band, foi atingido por um rojão enquanto cobria mais um dos tantos protestos que se multiplicam desde junho.

Em pleno Centro da cidade que logo sediará a final da Copa do Mundo e consequentemente receberá jornalistas de todos os cantos do planeta [o próprio Santiago estava escalado para cobertura do evento], um profissional da imprensa é assassinado em plena luz do dia simplesmente por cobrir a notícia ter sido o seu “lugar errado”. Dois black blocs destroçaram as vidas de duas mulheres: a viúva e a órfã do cinegrafista.

Mas será que não teria sido um mero acaso? Uma infeliz coincidência desmente quem adotar essa teoria. Há dois anos, um cinegrafista da mesma Band também foi atingido por bandidos cariocas. Naquele caso, notas de pesar também foram emitidas aos montes quando foi divulgada a notícia do falecimento de Gelson Domingos. Só que nada mudou, como prova agora o novo incidente.

Parte da fala de Sheherazade ao portal NaTelinha sobre a ação de entidades que muito reclamaram do discurso dela, porém nada fizeram em favor do jovem agredido se encaixa muito bem também ao clamor que inúmeras federações realizam agora por Santiago: “Alguma dessas entidades lhe socorreu? Estendeu-lhe a mão? Ou ele só foi usado como discurso panfletário e nada mais?”.

No próximo protesto, muito provavelmente teremos outros tantos profissionais no fogo cruzado sem nenhuma proteção. Todos na espera da melhor imagem, mas sem terem ideia do que os espera.

Repercussão 

A tragédia tomou até mesmo manchetes internacionais. Em sua matéria, a BBC destaca que o protesto em que ocorreu o acidente era contra um novo aumento das passagens do transporte coletivo. O Wall Street Journal destaca que o foco internacional trazido pelos eventos esportivos acaba inflando as manifestações.

Por aqui, todas as emissoras se uniram em torno da cobertura desde o começo. Muitas inclusive abriram espaço para os pedidos de doação de sangue para Santiago, que fizeram o Hemocentro Rio bater recorde de doadores em um domingo e hoje foram agradecidos em nota pela família.

Na sexta-feira, o Jornal Nacional dedicou quase 20 minutos divididos em dois blocos ao caso. É um tempo similar ao de coberturas especiais indicadas ao Emmy, como a do desabamento de três prédios no Rio em 2012. Após a confirmação da morte, mais da metade da edição desta segunda do Jornal Hoje repercutiu informações sobre o caso. O RJTV foi encerrado em silêncio como sinal de luto.

Na Band, o Jogo Aberto foi interrompido em diversos momentos para que pudesse ser informada toda a repercussão do falecimento de Santiago.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha