quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"Nova" Globo usa o telespectador como cobaia

Até os menos atentos já devem ter notado que a Globo vem “radicalizando” a grade para seus padrões nos tempos mais recentes. Com estratégias mais agressivas e espaço para testes que nem sempre são bem sucedidos, o canal tenta se reinventar. Mas essa onda de transformações tem ônus e bônus. Será que compensa?

Na faixa das sete, o canal apostou numa trama com linguagem diferente do padrão de TV aberta. Na minissérie de começo de ano também. Além do Horizonte se firmou como maior fracasso da faixa e constantemente tem sua liderança ameaçada pelo Cidade Alerta. Já Amores Roubados foi o maior sucesso da faixa em 10 anos e ainda impulsionou a reta inicial da décima quarta edição do Big Brother Brasil.

Ao apostar em produções assim, a Globo abre espaço para resultados tão distintos. O canal poderia simplesmente ter optado, respectivamente, por mais uma trama insossa e com doses de comédia como Sangue Bom e mais uma minissérie biográfica para janeiro. Só que a zona de conforto parece ter cansado o canal mais poderoso do país.

E as experimentações não vem somente no conteúdo. As faixas horárias também se encontram menos fixas. Provas disso são as inversões do Altas Horas com o Supercine, do Vale a Pena Ver de Novo com a Sessão da Tarde no Espírito Santo, em Goiás e no Distrito Federal - e em todo o Brasil a partir de 17 de fevereiro -, ou do Esquenta! com a Temperatura Máxima.

Nesses novos dias de um novo tempo que já começou, até a integração com os canais Globosat foi aprofundada. Em 2013, pela primeira vez na história, um produto fez o caminho inverso ao “natural”. Os episódios inéditos do Sai de Baixo foram ao ar primeiramente no Viva para só depois serem aproveitados em TV aberta.

Recentemente, ainda vimos novelas inéditas terem capítulos cancelados por coberturas jornalísticas ao vivo e longas (Flor do Caribe perdeu 2 dias de exibição. Um pela transmissão das manifestações e outro pela visita do papa Francisco). E novelas reprisadas serem emendadas enquanto uma acaba e outra começa. Ideias que podem ter sido inspiradas em Record e SBT, não?

A “rainha” das emissoras parece mesmo ter saído definitivamente de seu castelo. Resta saber se ainda com tempo suficiente de reverter a tendência histórica de queda nos números. Mas certamente se aprende mais errando e tentando do que simplesmente acompanhando de braços cruzados.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

sábado, 25 de janeiro de 2014

Record não aprende nem mesmo com os seus acertos

Marcelo Rezende já costuma anunciar que o exclusivo dá trabalho para fazer. Mas também dá mais retorno. Por isso que todas as grandes emissoras buscam furos ou eventos que possam chamar somente de seus. Foi o caso da Record com o ciclo olímpico de Londres, que lhe deu de bônus a Olimpíada de Inverno de Vancouver e os Jogos da Juventude em Cingapura.


No caso da gelada competição canadense, a emissora realmente fez história. Com uma cobertura nunca antes vista em TV aberta nos tempos em que o evento era escondido pela Globo em notas cobertas em seus telejornais, os 85 profissionais, incluindo nomes como Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim e Mylena Ciribelli, mostraram competições quase desconhecidas dos brasileiros, como o curling. Mesclando transmissões ao vivo e VTs, foram horas na vice-liderança.

Mas qualquer sinal de identidade que a Record poderia criar com esse nicho esportivo parece descongelar agora. Após a crise que se abateu na emissora, o número de profissionais enviados para Rússia não deve ser nem de 25% da quantidade presente no Canadá. Para as reportagens, apenas André Tal, que já estava ali pertinho como correspondente em Londres.

A onda de demissões recentes pode explicar parte do pé no freio, mas a divisão dos direitos com Globo e Band também é outro fator que deve ter feito a diferença. Sem poder bradar que é a única, a Record nunca deu muita bola para o esporte. No Pan 2007, disputou ponto a ponto com a Band em boa parte do tempo. Prevendo feitos similares, ao invés de investir para se diferenciar, o canal opta simplesmente por jogar a toalha na Olimpíada que antecede a edição carioca (mesmo com a estação diferente). Será que repetirá isso quando o mundo voltar os olhos ao Rio?

Por sorte, se a Record não soube explorar o interesse que despertou, as Organizações Globo finalmente se deram conta de que modalidades na neve e no gelo não podem ser tratadas como meras curiosidades. Globo, SporTV e seus respectivos sites enviarão 72 profissionais para Sochi. Renato Ribeiro, Carlos Gil, Kiko Menezes e Andrei Kampff fazem parte do time de repórteres que ajudarão até mesmo em inéditas transmissões ao vivo (ainda que poucas e concentradas somente nos finais de semana). Entre as modalidades escolhidas, esqui alpino e snowboard terão suas finais no ar tanto no masculino quanto no feminino.

Essa coluna foi publicada originalmente no NaTelinha

domingo, 12 de janeiro de 2014

Patrulha Salvadora mostra passo importante para o SBT

O SBT continua bebendo na fonte do sucesso de Carrossel. Mas dessa vez acertou na dose ingerida. Ao invés de seguir levando as crianças uniformizadas em uma maratona de programas da casa ou tentar uma reprise do que já deu certo, o canal voltou a apostar em uma série própria após décadas. E no formato de spin-off, consagrado nos Estados Unidos.


Do que se trata? De uma produção que é filha de outra. No caso, Patrulha Salvadora de Carrossel. É o mesmo que a Globo Filmes fez recentemente com Giovanni Improtta (Senhora do Destino) e Crô (Fina Estampa). Só que a trama do SBT conseguiu destacar bem mais de 1 personagem. Sendo assim, vários deles foram mantidos, como Maria Joaquina, Cirilo, Jaime, Alícia e Daniel.

Personagens conhecidos do público, o que gera identificação imediata, e também entrosados entre si. Com o elenco afinado já em uma estreia, a possibilidade de uma edição mais caprichada e de mais cenas externas pela exibição semanal, Patrulha Salvadora consegue superar a sua inspiradora. Mantém o clima de infância, mas soando menos boba.

O timing escolhido pelo SBT também pode pesar muito a favor da produção. Os personagens estão frescos na memória do público, mas também não a ponto de fazerem parte do cotidiano deles. E a trama periga passar logo a marcar mais do que a substituta de Carrossel e ocupante do horário nos dias úteis: Chiquititas. A nova novelinha vem em queda livre e não cumpre o papel exercido pela antecessora, que foi vice-líder em todos os capítulos, enfrentando até mesmo ocasiões atípicas, como a onda de protestos de Junho. E pelo simples fato de complicar demais uma história infantil, o que felizmente não aconteceu na transição da Escola Mundial para Kauzópolis.

Destaque também para Íris Abravanel, que escreve os roteiros das novelas baseados nos originais mexicanos, mas agora assumiu (e deu conta do recado) em fazer textos inéditos para os pequenos. Apesar de ter uma clara inspiração em Scooby Doo (até pela presença do Rabito), Patrulha Salvadora tem sua boa identidade.


Méritos ainda ao bom uso de efeitos especiais. Aliás, isso remete ao autor Tiago Santiago em dois pontos. Patrulha pode ter (justamente, já que os textos são do SBT) inspiração em seu projeto O Superpoder do Amor, que foi engavetado pelo canal antes dele ser demitido. E evidencia como a Record comeu poeira ao nunca tentar algo do tipo. Séries semanais se aproveitando das deixas de Mutantes, de núcleos de êxito de suas novelas como o salão de Bela, a feia (que depois teve o elenco quase que totalmente regressando para Globo) ou até de Rebelde dificilmente fariam feio.

E remetendo ao caso da debandada do elenco da Record para Globo, a iniciativa do SBT em investir no seriado também pode ser muito proveitosa nesse ponto. Ou alguém acha que talentos como Larissa Manoela resistiriam muito tempo na geladeira enquanto certamente há um forte assédio de concorrentes?

Com 7 pontos de média em uma faixa em que o SBT não costumava passar dos 5 (e com a Record tendo escalado A Era do Gelo 2 para o confronto), resta torcer para que os primeiros episódios previstos possam se transformar em muitos. É uma grata opção para crianças de todas as idades na faixa.