quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Os impactos da era Collor na atualidade


Ao final da década de 1980, o Brasil sofria uma das maiores crises de sua história. Recém-saído da ditadura militar instalada em 1964, afundado em extrema inflação e escândalos de corrupção na política; não parecia haver esperança de uma guinada no país. Eis que surge Fernando Collor de Melo, o caçador de marajás.

Uma história conhecida por todos... Ele chegou prometendo acabar com os problemas do país, incluindo caçar os corruptos da política, mas nada fez. Aliás, até que fez. E o problema reside aí. Collor se saiu pior do que todos aqueles que ameaçou caçar. O então jovem político decepcionou em seu governo, após orquestrar uma campanha impecável. Isso devido a seu carisma, instrução, disposição e tantos outros fatores que foram somados a um preponderante: o apoio da imprensa. Nunca política e mídia estiveram tão ligadas no Brasil do que na chamada Era Collor. E ele usou e abusou dela para se promover.

O doutor em Ciências Sociais pela UFRN e especialista em Marketing político e persuasão eleitoral pela PUC/RS, Marcelo Bolshaw Gomes, acredita que o medo das camadas conservadoras na eleição de um candidato de extrema esquerda ajudou: “Eles tinham medo de eleger um candidato de extrema esquerda ou qualquer outro governante do PMDB ou aliado de Sarney, então a camada conservadora se utilizou da imprensa para apoiar a candidatura de Collor, que não tinha envolvimento direto com os partidos’’. Ele ainda destaca o papel importante da, até então, assessora de imprensa de Collor na época Belisa Ribeiro: “O papel dela foi aproveitar os buracos que ocorriam em matérias e deixavam espaço no jornal, ela então ocupava esses espaços. E não só nos jornais, como também em revistas, para promover uma imagem de perseguidor de corruptos’’.

Dentre os meios de comunicação utilizados na campanha, dois merecem grande destaque: a Revista Veja e as Organizações Globo. A vendedora de cosméticos Maria Clara, 45 anos, se recorda desse período: “Era comum ver em bancas de jornais e revistas edições da Veja com Collor na capa acompanhadas de frases de efeito, que acabaram se tornando lemas de sua campanha, como O Caçador de Marajás’’. Enquanto isso, a Rede Globo liderada por Roberto Marinho deixava cada vez mais evidente sua preferência por Collor, sendo o auge durante o polêmico debate entre o alagoano e Lula. Na época, o Jornal Nacional seguinte ao debate exibiu uma versão tendenciosa do confronto. A história já foi até admitida pelo chefão da Globo no período em seu livro e é relatada com minúcias por produções independentes, como Notícias do Planalto. 

Assim, um desconhecido Fernando Collor que iniciou sua campanha presidencial com menos de 10% das intenções de voto, crescia e em 1989 foi ao segundo turno com cerca de 8 mil votos a mais que Lula. Êxito principalmente devido a uma competente campanha de marketing. Para Bolshaw, “a imprensa tratou essa candidatura como um produto e esse foi o marco mais conhecido da utilização de técnicas do marketing na política brasileira”.

Mas a lua de mel não durou muito. Acusado pelo seu próprio irmão, Pedro Collor, que chocou o país ao estampar a capa da revista Veja acusando Fernando de usar PC Farias, seu braço direito, como testa de ferro, o império começou a ruir. Daí para as denúncias virem até do motorista da Presidência não demorou muito. Acuado pela população e sem sustentação política, Collor renunciou na esperança de não ter seus direitos políticos cassados. Em vão. O Congresso confirmou o impeachment do presidente, que simplesmente sumiu da mídia que ele tanto idolatrava por anos, apesar de ainda chefiar a TV Gazeta, afiliada da Globo em Alagoas.

A assistente social Cláudia Andreza, 34 anos, que era adolescente na época da mobilização popular pela saída de Collor, relembra a unidade nacional estabelecida contra aquele que antes despertava a confiança da nação. “Quando ele saiu, a comemoração com as cores da bandeira foi parecida com Copa do Mundo”, compara.

Em 1997, Collor ressurgiria em horário nobre. Ele topou uma entrevista com a repórter Sônia Bridi sob a condição de o conteúdo ser veiculado sem cortes no Jornal Nacional. Assim foi. E também foi mais um papelão para o ex-presidente. Questionado pela jornalista sobre as denúncias contra ele, Collor tirou a “veemência da força interior e do coração” para respostas, no mínimo, rebeldes. Após 10 minutos de conversa, veiculados para 45 pontos de audiência, um novo e conveniente período sabático de 5 anos surgiu. Prazo para ele recuperar seus direitos políticos e disputar o governo alagoano. Em 2002, não deu certo contra Ronaldo Lessa, que faturou a disputa em 1º turno. Mas a “vingança” veio em 2006, quando Collor derrotou Lessa na disputa por uma cadeira no Senado. Em 2010, nova derrota para o governo, dessa vez diante de Teotônio Vilela, mas o mandato estava garantido, já que a duração dele no Senado é de 8 anos.

Agora filiado ao PTB, ele ainda reflete sobre qual cargo disputará em 2014, mas aparece no páreo em qualquer cenário do seu estado natal. Dentre suas atividades mais recentes na tribuna do Senado, destaca-se o discurso na homenagem aos 25 anos da promulgação da Constituição. Em 29/10, diante de Lula, seu inimigo em 1989, mas agora aliado e que também estava na homenagem, declarou: “Posso afirmar, portanto, que o processo de impeachment a que fui submetido, com minha participação direta e isenta, serviu para consolidar a Constituição, então com apenas quatro anos de vigência”. 

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