A base de praticamente tudo que dá certo na televisão depende não de efeitos técnicos, cenários luxosos ou formatos mirabolantes... Claro que uma estrutura mínima é necessária, mas o que o povo gosta mesmo de ver são boas histórias. E principalmente aqui no Brasil.
Adoramos personagens mesmo longe das novelas. Como falar do penta sem exaltar a superação de Ronaldo? Ou mesmo não embarcar em notícias que nos proporcionam reviravoltas diárias dignas de ficção? Foi assim com casos como o Isabella Nardoni e o Eloá Pimentel. Em comum, ambos também dispararam a audiência de um canal em especial: a Record.
Por trunfos assim que o canal da Barra Funda adquiriu a fama de sanguinário. E há um pouco de razão nisso. Até programas atuais, como o Balanço Geral SP, não tem muito pudor na exploração de dramas humanos. Mas toda regra tem a sua exceção. E a da Record é assistida por cerca de 10 pontos diariamente na Grande São Paulo. Trata-se do Cidade Alerta, comandado com maestria por Marcelo Rezende.
Tal qual um maestro de verdade, Rezende também não abre mão de uma equipe fiel o acompanhando. E encontra um trunfo na montagem desse time. Ele soube perfeitamente dividir o momento de sucesso e abrigar os mais variados perfis de jornalistas numa equipe que sempre dá show no ar, seja para brincar ou para informar. E vale atentar bem para o "ou". Jornalismo e entretenimento estão presentes no Cidade Alerta, mas não se misturam. Os momentos em que a informação é prioridade são respeitados. Foi assim com os protestos de Junho, em que o programa ficou por mais de 3h no ar somente com imagens da mobilização popular em diversos dias.
E quando o universo conspira a favor, até o que poderia ser considerado um exagero colabora. A duração avantajada permite que Rezende e sua tropa se desprendam de qualquer roteiro. Como um atraso às 17h30 vai impactar diretamente às 20h10, por exemplo? Com essa liberdade, além daquela que só o ao vivo proporciona, vemos o jornal ser feito em tempo real, apesar de qualquer estrutura inicial em que seja baseado. Se a entrevista rende, simplesmente segue rendendo. Vantagem que os telejornais tradicionais, que raramente podem durar mais de 1h, não possuem.
O sucesso proporcionado por essa fórmula rompe fronteiras. Umas mais, outras menos, mas simplesmente todas as praças da Record exibem trechos do Cidade Alerta nacional ao vivo. E não há nenhuma obrigação para que façam isso, diferentemente de como foi no rápido retorno de Datena. Se o agora novamente apresentador do Brasil Urgente chegou cercado de expectativas e decepcionou, a investida em Marcelo Rezende começou cercada de desconfianças e deve ter surpreendido até os mais otimistas.
E ele segue contrariando qualquer prognóstico. É sabido que os programas policiais cansam após chegaram ao auge. Mas isso ainda não aconteceu e nem deve acontecer com o formato atual do Cidade, que já está consolidado na mesma faixa há meses, independente da presença de casos de comoção nacional ou não. Por um motivo simples e que nos faz voltar ao primeiro parágrafo: boas histórias não faltam. Sejam contadas de Manaus pela Fabíola Gadelha ou de Porto Alegre pela Luíza Zanchetta. E é por isso que o sucesso não é regionalizado. O público não liga no Cidade para conferir as notícias do seu bairro, mas sim para acompanhar notícias que mexam com ele.
Enquanto isso, a Globo faz apostas insossas. Você sabe o nome de mais de 5 personagens da atual temporada de Malhação, de Joia Rara e de Além do Horizonte? Pois é... Seja regredindo ao infantilizar uma faixa em que o projeto verdadeiramente jovem anterior obteve êxito, escurecer e refinar um horário marcado pelo perfil mais mexicano das novelas brazucas ao tentar o mistério ao invés da comédia nas 19h, o canal carioca se vê minado pelo fenômeno da Record, que realmente a ameaça e até belisca a liderança em vários minutos de diversos dias. Afinal, pode-se ver facilmente que o mito criado em torno da riqueza de Percival de Souza caiu muito mais no gosto da massa do que qualquer núcleo das tramas citadas. Assim como o interesse pelo destino amoroso de Luiz Bacci parece ser bem maior do que o criado em torno do personagem do azarado Thiago Rodrigues, que mais uma vez se vê em uma trama mal sucedida em audiência.
E se engana quem pensa que o boom do Cidade Alerta ficou limitado ao "simples" papel de alavancar o horário nobre da Record, sendo decisivo para vice-liderança do canal. Tal qual a Globo fez com Avenida Brasil ou o SBT com Carrossel, os bispos não são bobos (de vez em quando) e exploram seu maior sucesso recente. É homenagem no Domingo da Gente para lá, pitacos sobre vídeos de internautas no Esporte Fantástico para cá... E todos tiram uma casquinha. Até o próprio, que já vê seu livro autobiográfico Corta Pra Mim ser um sucesso. O lançamento em São Paulo levou simplesmente 5 mil pessoas para livraria em pleno sábado pela manhã. Além disso, a repercussão nas redes sociais é garantida e os vídeos do jornalístico ficam sempre entre os mais vistos do R7, portal da emissora. Com o sucesso em tantas plataformas, qual será a próxima investida de Marcelo Rezende? Só resta que aguardemos os próximos, mas certamente já bem-sucedidos capítulos.
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