sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O que Reinaldo Azevedo não sabe sobre o Mais Médicos

Caro jornalista Reinaldo Azevedo, o senhor parece desconhecer a profundidade do programa Mais Médicos. Um artigo publicado em seu blog no site da revista Veja articula que somente "mão de obra escrava oriunda da ilha comunista (Cuba)" toparia servir aos pontos mais desassistidos do interior do Brasil. Mas a BBC Brasil indica que pelo menos 220 profissionais vem de outros países, como Argentina, Venezuela, Espanha e Portugal. A função básica de atendimento primário em pequenas cidades ou periferias também evidencia que os investimentos em estrutura não são o principal ponto a ser debatido sobre o Mais Médicos, o que derruba a sua tese sobre as possíveis desistências de "homens e mulheres livres" sejam oriundas do problema. Sabemos, inclusive, que alguns médicos brasileiros se cadastraram somente com propósito de sabotarem o programa.

Boa parte dos profissionais estrangeiros que vieram ao Brasil tem mais de 10 anos de experiência, cerca de 20% deles são mestres e uma fatia considerável já atuou fora de suas nações de origem em outras ocasiões, segundo o CQC, da TV Bandeirantes. Logo, isso demonstra o total poder de escolha que eles tinham em mãos, já que certamente contavam com outras opções de trabalho. Se optaram pelos confins brasileiros, talvez tenham priorizado o Juramento de Hipócrates, quando prometeram seguir os "preceitos (...) da caridade, (...) penetrando no interior dos lares".

A população anseia pela presença desses profissionais com ou sem estrutura. Uma recente pesquisa do Instituto MDA encomendada pela Confederação Nacional do Transporte indica que 73,9% dos brasileiros aprovam a chegada dos médicos estrangeiros. Uma prova de que eles serão bem recepcionados por seus pacientes, contrastando com as cenas de preconceito protagonizadas por "colegas" de jaleco. Isso deriva da colocação deles em regiões atualmente carentes de médicos. Carência que foi apontada pelo Ipea em pesquisa de 2011 como o pior problema da saúde brasileira. Segundo a Frente Nacional dos Municípios, 700 cidades do país não contam com nenhum médico. Um primeiro atendimento dos enfermos dessas localidades já desafogaria os maiores centros.

E também é sabido que a burocracia das licitações impede mudanças estruturais em curto prazo, sendo que a população mais humilde necessita de melhorias emergencialmente, o que indica que os médicos deveriam ter o bom senso em atuarem mesmo que de forma limitada, até pelos ganhos (bem) acima da média que possuem. Se os brasileiros não tiveram essa consciência, que os estrangeiros, sejam de primeiro ou de terceiro mundo, sejam bem-vindos ao país, já que estão aqui por mera opção. Eu, o senhor e todos nós deveríamos abraçar a boa vontade de quem resolveu abraçar o problema da nossa saúde.

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