Caro jornalista Reinaldo Azevedo, o senhor parece desconhecer a profundidade do programa Mais
Médicos. Um artigo publicado em seu blog no site da revista Veja articula que
somente "mão de obra escrava oriunda da ilha comunista (Cuba)"
toparia servir aos pontos mais desassistidos do interior do Brasil. Mas a BBC
Brasil indica que pelo menos 220 profissionais vem de outros países, como
Argentina, Venezuela, Espanha e Portugal. A função básica de atendimento
primário em pequenas cidades ou periferias também evidencia que os
investimentos em estrutura não são o principal ponto a ser debatido sobre o
Mais Médicos, o que derruba a sua tese sobre as possíveis desistências de
"homens e mulheres livres" sejam oriundas do problema. Sabemos,
inclusive, que alguns médicos brasileiros se cadastraram somente com propósito
de sabotarem o programa.
Boa parte dos profissionais estrangeiros que vieram ao
Brasil tem mais de 10 anos de experiência, cerca de 20% deles são mestres e uma
fatia considerável já atuou fora de suas nações de origem em outras ocasiões,
segundo o CQC, da TV Bandeirantes. Logo, isso demonstra o total poder de
escolha que eles tinham em mãos, já que certamente contavam com outras opções
de trabalho. Se optaram pelos confins brasileiros, talvez tenham priorizado o
Juramento de Hipócrates, quando prometeram seguir os "preceitos (...) da
caridade, (...) penetrando no interior dos lares".
A população anseia pela presença desses profissionais com ou
sem estrutura. Uma recente pesquisa do Instituto MDA encomendada pela
Confederação Nacional do Transporte indica que 73,9% dos brasileiros aprovam a
chegada dos médicos estrangeiros. Uma prova de que eles serão bem recepcionados
por seus pacientes, contrastando com as cenas de preconceito protagonizadas por
"colegas" de jaleco. Isso deriva da colocação deles em regiões
atualmente carentes de médicos. Carência que foi apontada pelo Ipea em pesquisa
de 2011 como o pior problema da saúde brasileira. Segundo a Frente Nacional dos
Municípios, 700 cidades do país não contam com nenhum médico. Um primeiro
atendimento dos enfermos dessas localidades já desafogaria os maiores centros.
E também é sabido que a burocracia das licitações impede
mudanças estruturais em curto prazo, sendo que a população mais humilde
necessita de melhorias emergencialmente, o que indica que os médicos deveriam
ter o bom senso em atuarem mesmo que de forma limitada, até pelos ganhos (bem)
acima da média que possuem. Se os brasileiros não tiveram essa consciência, que
os estrangeiros, sejam de primeiro ou de terceiro mundo, sejam bem-vindos ao
país, já que estão aqui por mera opção. Eu, o senhor e todos nós deveríamos abraçar
a boa vontade de quem resolveu abraçar o problema da nossa saúde.
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