sexta-feira, 26 de abril de 2013

O contrato de leitura equivocado do Balanço Geral SP


Quando um produto se encontra subordinado ao departamento de jornalismo da emissora, se espera uma seriedade agregada ao formato, mesmo com a tendência de informalidade buscada. Mas alguns programas ultrapassam os limites e se tornam verdadeiros espetáculos de bizarrice. A edição paulista do Balanço Geral, televisionada pela TV Record, é um bom exemplo disso. Exemplificarei abaixo as razões que me levam a manter uma relação de oposição com o jornalístico.

Primeiramente, é preciso constar que apesar de intitulado de Balanço Geral SP, a atração trata de temas que vão além do estado e também é transmitida para rede nacional através das antenas parabólicas e operadoras de TV fechada, além de ocupar a grade nas localidades que não possuem produção local. E uma das maiores demonstrações de falta de bom senso do programa veio justamente quando ele abordava a tragédia de Santa Maria (RS), em que o incêndio na boate Kiss matou 241 pessoas.

No dia imediatamente depois da quinta maior tragédia do Brasil (28/1/13), Geraldo reproduziu o cenário de uma boate em seu palco. Móveis foram espalhados pelo cenário e até mesmo sapatos eram distribuídos de maneira aleatória pelo palco para verossimilhança ficar mais forte. O próprio solicitava para produção jogar mais fumaça durante a simulação. Aliás, fumaça obtida através de gelo seco. E a mistura entre a bagunça formada com a chegada de novas informações sobre os feridos não permitiu nem mesmo que a suposta prestação de serviço ao educar as pessoas como agir em situações similares fosse prestada.

Uma semana depois, o global Fantástico partiu da mesma premissa: Simular o que aconteceu na boate Kiss durante o incêndio. A diferença é que o programa global adotou um tom sóbrio durante sua reportagem e construiu uma cidade cenográfica fiel ao espaço físico da casa de shows antes da tragédia, se livrando de exageros insensíveis. 

Por envolver diretamente um acidente que teve repercussão até mesmo internacional, a cobertura sobre o incêndio em Santa Maria talvez tenha sido a feita pelo Balanço Geral SP que gerou mais críticas na imprensa especializada, mas passou longe de ser a primeira apontada como de mau gosto.

Em outra situação, ao comentar um assalto, o apresentador Geraldo Luís se surpreendeu com o tamanho da arma utilizada pelo bandido e disse que daria até o “loló” caso fosse vítima de uma situação similar.

Outras situações constrangedoras para o jornalístico foram quando Geraldo deixou as calças caírem e apresentou a atração vestido como um personagem do filme Avatar, que seria exibido pela emissora naquela semana.

Recentemente, até a tensão nuclear gerada pela Coreia do Norte virou motivo de piada. Ou seja, notícias relevantes se tornam deixas para piadas, não para informações. E isso se utilizando do departamento de jornalismo do canal, o que diferencia completamente a situação de programas humorísticos que abordam temas jornalísticos, como o CQC (Band) e o Furo MTV.

O Balanço Geral SP é transmitido de segunda a sexta pela Record, canal tradicionalmente associado com exageros em suas coberturas, em duas edições (6h15 e 12h). Atualmente, apenas a da hora do almoço tem a apresentação de Geraldo Luís, que constantemente consegue bons índices de audiência, deixando o canal até em primeiro lugar durante muitas ocasiões.

Enquanto os índices seguirem satisfatórios, dificilmente veremos uma mudança do estilo do Balanço Geral SP para que se torne jornalismo de verdade, o esperado em um canal que utiliza justamente de “Jornalismo Verdade” como slogan. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é realmente muito importante para o Território. Comente! O espaço é todo seu :)