Quando um produto se encontra subordinado ao departamento de jornalismo da emissora, se espera uma seriedade agregada ao formato, mesmo com a tendência de informalidade buscada. Mas alguns programas ultrapassam os limites e se tornam verdadeiros espetáculos de bizarrice. A edição paulista do Balanço Geral, televisionada pela TV Record, é um bom exemplo disso. Exemplificarei abaixo as razões que me levam a manter uma relação de oposição com o jornalístico.
Primeiramente, é
preciso constar que apesar de intitulado de Balanço Geral SP, a atração trata
de temas que vão além do estado e também é transmitida para rede nacional
através das antenas parabólicas e operadoras de TV fechada, além de ocupar a
grade nas localidades que não possuem produção local. E uma das maiores
demonstrações de falta de bom senso do programa veio justamente quando ele
abordava a tragédia de Santa Maria (RS), em que o incêndio na boate Kiss matou
241 pessoas.
No dia
imediatamente depois da quinta maior tragédia do Brasil (28/1/13), Geraldo
reproduziu o cenário de uma boate em seu palco. Móveis foram espalhados pelo
cenário e até mesmo
sapatos eram distribuídos de maneira aleatória pelo palco para verossimilhança
ficar mais forte.
O próprio solicitava para produção jogar mais fumaça durante a simulação.
Aliás, fumaça obtida através de gelo seco. E a mistura
entre a bagunça formada com a chegada de novas informações sobre os feridos não permitiu
nem mesmo que a suposta prestação de serviço ao educar as pessoas como agir em
situações similares fosse prestada.
Uma semana
depois, o global Fantástico partiu da mesma premissa: Simular o que
aconteceu na boate Kiss durante o incêndio. A diferença é que o programa global
adotou um tom sóbrio durante sua reportagem e construiu uma cidade cenográfica
fiel ao espaço físico da casa de shows antes da tragédia, se livrando de exageros
insensíveis.
Por envolver
diretamente um acidente que teve repercussão até
mesmo internacional,
a cobertura sobre o incêndio em Santa Maria talvez tenha sido a feita pelo
Balanço Geral SP que gerou mais críticas na imprensa especializada, mas passou
longe de ser a primeira apontada como de mau gosto.
Em outra
situação, ao comentar um assalto, o apresentador Geraldo Luís se surpreendeu
com o tamanho da arma utilizada pelo bandido e disse que daria até o “loló” caso fosse
vítima de uma situação similar.
Outras situações
constrangedoras para o jornalístico foram quando Geraldo deixou as calças caírem e apresentou a atração vestido como um
personagem do filme Avatar, que seria exibido pela emissora naquela semana.
Recentemente,
até a tensão nuclear
gerada pela Coreia do Norte virou motivo de piada. Ou seja,
notícias relevantes se tornam deixas para piadas, não para informações. E isso
se utilizando do departamento de jornalismo do canal, o que diferencia
completamente a situação de programas humorísticos que abordam temas
jornalísticos, como o CQC (Band) e o Furo MTV.
O Balanço Geral
SP é transmitido de segunda a sexta pela Record, canal tradicionalmente
associado com exageros em suas coberturas, em duas edições (6h15 e 12h).
Atualmente, apenas a da hora do almoço tem a apresentação de Geraldo Luís, que
constantemente consegue bons índices de audiência, deixando o canal até em
primeiro lugar durante muitas ocasiões.
Enquanto os
índices seguirem satisfatórios, dificilmente veremos uma mudança do estilo do
Balanço Geral SP para que se torne jornalismo de verdade, o esperado em um
canal que utiliza justamente de “Jornalismo
Verdade”
como slogan.
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