O Twitter alcança um destaque global ao ser o lugar de que emergem momentos históricos. Foi assim com o primeiro post sobre a reeleição de Barack Obama ou com a narração ao vivo de um vizinho de Osama Bin Laden sobre a operação que matou o terrorista. Mas a rede social dos 140 caracteres não contribui somente para momentos tão grandiosos e imediatos. O passarinho Larry também testemunha a construção de movimentos sociais relevantes.
A rede social é “queridinha”
das mídias tradicionais e não são raros os programas de TV que inserem posts
oriundos do Twitter na tela, mas a massa popular enveredou a presença do
microblog nas grandes manifestações de Junho de outras maneiras.
Tanto com a marcação das
atividades quanto com a transmissão ao vivo delas, os manifestantes, incluindo
aí a já célebre Mídia Ninja, usaram e abusaram de posts que imediatamente
alcançavam grande repercussão, mesmo durante a Copa das Confederações. É de lá
também que vieram denúncias e provas contra abusos policiais, seja agora na
mobilização nacional, ou bem antes, quanto Natal sozinha já se unia na onda do
#ForaMicarla. Aliás, o primeiro movimento acabou conseguindo êxito e a prefeita
deixou o cargo antes do final do seu mandato. O mesmo se repetiu na
#RevoltadoBusão, quando o aumento de 20 centavos na tarifa foi revogado já pelo
prefeito Carlos Eduardo. Prova de que a união faz a força, certo?
Para o professor Antonino
Condorelli, que leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e foi
responsável pela criação da primeira especialização em mídias sociais do
estado, esse modelo contrahegemônico tende a crescer, porém ainda coexistindo
com o formato tradicional. Em resumo, os diferentes pontos de vista se
integram, sendo que o grande beneficiado com isso é o público, que passa a
dispor de mais amplos pontos de vista.
A visão é compartilhada por
Lamonier Araújo, produtor do Bom Dia RN (InterTV Cabugi). Trabalhando em uma
emissora que se tornou alvo de antipatia dos manifestantes (a ponto de Patrícia
Poeta ler um editorial se explicando sobre a linha editorial da rede no auge
dos protestos), ele diz que o próprio processo interno de compartilhamento de
estrutura com o portal G1 facilita essa integração. Segundo Lamonier, muitas
vezes os profissionais do site eram escalados primeiro para conferirem se o
protesto valia a pena em termos de cobertura televisiva, principalmente após a
intensificação da frequência deles.
O jornalista relata ainda
que tweets servem como orientação para o que deve ser apurado, jamais como
notícia pronta. E que o feedback do público através de meios mais tradicionais,
como os telefonemas, tem mais peso.
Estudante de Jornalismo,
Felipe Jailton usava o Twitter de maneira diferente durante os protestos,
mostrando a multiplicidade de opções da rede. O sentimento coletivo transmitido
mais facilmente pela web motivava a saída para as ruas, principalmente pela
união compartilhada entre diversos usuários por determinadas causas, explicou o
universitário.
O sucesso da estratégia que surgiu quase que por acidente, mas foi se aprimorando pela organização dos movimentos, como com o Passe Livre, fica comprovado em números. O maior dos protestos ocorrido em Natal (no dia 20 de junho) teve entre 25 (estimativa da Polícia Rodoviária Federal) e 30 mil (estimativa dos organizadores) pessoas presentes no percurso entre o Natal Shopping e o Midway Mall. Numa “média”, 28 mil pessoas. Número simbólico que representa 200 vezes mais do que o limite de caracteres de um post no Twitter (140). Mas muitos não precisavam nem chegar ao número para expressarem suas opiniões. É assim que hashtags como #VemParaRua e #OGiganteAcordou se tornaram marcas da maior reunião popular espontânea em décadas por todo o país. E seja na realidade local, nacional ou até mundial (como foi o caso do #25jan no Egito), vimos o surgimento e agora acompanhamos a consolidação dessa plataforma em que os anseios que estão “entalados” podem emergir em forma de coro das multidões pouco depois.
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